Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de janeiro de 2020
Governo e setor privado abrem janeiro, de novo, apostando que a economia crescerá mais de 2% pela primeira vez desde o fim da recessão (2014-2016). Economistas veem diferenças entre 2018, que desacelerou no fim e cresceu 1,3% (de projetados 2,7%), e 2019 — que deve ter crescido apenas 1,2%, mas terminou com juros na mínima histórica e consumo em alta, animando comércio e indústria.
são paulo Pelo terceiro ano consecutivo, governo e economistas do setor privado começam janeiro otimistas e com a expectativa de que a economia brasileira crescerá acima de 2%, deixando para trás a quase estagnação verificada desde que o país saiu da recessão do período 2014-2016.
O chamado “agora vai” acabou frustrado nos últimos dois anos por questões como a demora na aprovação de reformas na área fiscal, incertezas em relação ao governo Jair Bolsonaro, a crise argentina e a desaceleração da economia mundial.
Esses fatores são os mesmos que ameaçam, em 2020, a recuperação mais forte da atividade econômica que tem sido verificada desde o início do segundo semestre de 2019, anabolizada em parte pela liberação de recursos do FGTS que deram mais gás ao consumo.
A avaliação, entretanto, é que os riscos agora são menores, e os incentivos para a recuperação econômica, maiores.
No final de 2017, as projeções dos analistas consultados pelo Banco Central na pesquisa Focus apontavam crescimento de 2,7% para 2018. O resultado ficou em 1,3%, devido à greve dos caminhoneiros e a incertezas com o período eleitoral.
Em dezembro de 2018, às vésperas da posse de Bolsonaro, analistas renovaram a aposta, projetando crescimento de 2,55%. O país, no entanto, não conseguiu sair da média de 1% até o terceiro trimestre de 2019, e a expectativa é que feche o ano com expansão de 1,2%.
Após dois anos de frustrações, a mesma pesquisa aponta expectativa de crescimento de 2,30% para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2020.
O próprio BC passou longe dos resultados verificados, tendo projetado expansão de 2,6% para 2018 e 2,4% para 2019. Agora, prevê crescimento de 2,2% em 2020.
A avaliação é que 2020 começa com um importante estímulo em relação aos anos anteriores: a redução da taxa Selic a patamares historicamente baixos (4,5% ao ano). Somase a isso a aceleração do consumo vista nos últimos seis meses, que dá fôlego ao comércio e pode levar à reposição de estoques na indústria.
As estimativas são de que somente o efeito estatístico do impulso do segundo semestre de 2019 garanta pelo menos um ponto percentual de crescimento, ou seja, um empate técnico com o ano anterior, segundo a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV.
“Para crescer abaixo de 1%, teria de ter uma reversão muito grande do que a gente está vivendo, um cenário internacional mudando drasticamente. Você está terminado o ano em uma situação relativamente melhor do que em 2018, e o efeito Argentina não vai ser da mesma magnitude”, afirma Matos.
Ao fazerem suas projeções, os economistas elaboram diferentes hipóteses, cada uma com um nível de probabilidade. O Ibre, por exemplo, projeta expansão de 2,2% em 2020, mas traça cenários alternativos, de menor probabilidade, de expansão de 3% (otimista) ou 1,5% (pessimista).
Para Matos, a recuperação é impulsionada pelo consumo, que deverá voltar aos níveis pré-recessão neste ano, mas também é composta por outros fatores ligados à atividade do setor privado, uma vez que o setor público tem atuado de forma contracionista.
“O consumo está acelerado, o investimento está acelerando. Temos alguma recuperação da indústria de transformação. O PIB está mais com cara de 2%, mas a demanda interna privada já está com cara de 3% [de crescimento].”
Luciano Rostagno, estrategista-chefe da América Latina do Banco Mizuho do Brasil, também afirma que o crescimento de 1% está garantido caso seja verificado que a economia terminou o ano com crescimento trimestral próximo de 0,8%, como vêm indicando os dados já divulgados. Em 2018, por outro lado, o país encerrou o ano em desaceleração.
“Há razões para acreditar que 2020 vai ser diferente, e que vamos ter um crescimento de pelo menos 2%. Estamos trabalhando com 2,5%. O risco fiscal é menor do que no passado, o governo tem conseguido avançar na agenda de reformas e houve uma mudança importante de política econômica que permitiu trazer a taxa de juros para as mínimas históricas”, afirma Rostagno.