Segunda-feira, 06 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de abril de 2020
O Ministério da Saúde assinou o primeiro acordo com um fabricante nacional de respiradores hospitalares desde que a pandemia de coronavírus atingiu o País.
Em uma força conjunta, a Magnamed, responsável pelo projeto, utilizará a capacidade de produção em larga escala da Flextronics, montadora internacional que normalmente atende o mercado de telecomunicações e tecnologia, para entregar 6.500 aparelhos até agosto, com expectativa de 2 mil unidades no primeiro mês.
O valor do contrato não foi revelado, mas calcula-se no mercado que cada respirador destes fique entre R$ 50 mil e R$ 60 mil. Ambas as empresas têm sede no Estado de São Paulo.
O ministério já havia comunicado os principais fornecedores de respiradores do País, cerca de quatro empresas, que a produção seria toda absorvida pelo governo federal. Porém essas fábricas precisam de parceiros maiores para multiplicar por dez a sua capacidade de entrega.
Entre várias iniciativas em curso, a junção Magnamed-Flextronics foi até agora a que conseguiu reunir todas as especificidades necessárias para receber a bênção federal. Em Santa Catarina, a produtora de geradores Weg já tem linhas de montagem prontas para produzir um modelo alemão de respirador para o governo federal. Falta a “canetada”. A empresa afirma ter capacidade para produzir 50 respiradores por dia.
Dependência da China
Respiradores são aparelhos montados no Brasil com peças importadas. Iniciativas para a produção destas peças engatinham. No entanto, executivos afirmam que não há pânico em relação à China, principal produtor destes insumos.
“É só pagar e eles te entregam”, afirmou interlocutor próximo à Magnamed. “Além disso, componentes importantes vêm da Suíça e da Alemanha, por exemplo. São fornecedores de longa data.”
Na USP (Universidade de São Paulo) e também na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), pesquisadores desenvolvem modelos baratos de respirador que visam justamente a driblar a necessidade de peças importadas.
São projetos de baixíssimo custo, entre R$ 1.000 e R$ 2.000, para uso em caso de ausência de equipamento sofisticado.
A previsão mais otimista na USP é ter um modelo aprovado para fabricação em três semanas. Na UFRJ, o Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia) calcula em no mínimo um mês o tempo para ter um produto comercializável.
Bate-cabeça
Nos mercados hospitalar, de investimentos e no Ministério da Saúde, juntar a vontade de ajudar com a exigência para entregar não tem sido tarefa simples.
Bancos e fundos de investimento acompanham projetos e aguardam a garantia dos contratos federais para entrar nas operações de financiamento de peças e contratações de pessoal. Enquanto isso, encomendas aumentam as filas na China.
A Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), por exemplo, tem seu protótipo feito em parceria com Senai e iniciativa privada, e está disposta a abrir o projeto para quem quiser fabricar, mas precisa de homologação da Anvisa para o aparelho.
Desde o início da crise, projetos inundam o Ministério da Saúde diariamente, mas a grande maioria esbarra em critérios técnicos — ou a empresa não tem capacidade de produção em larga escala, ou não obedece aos requisitos para a produção de material hospitalar.
Para produzir respiradores, é necessário projeto homologado e com uma empresa de equipamento hospitalar responsável.