Quinta-feira, 01 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2018
Paulo Guedes , futuro ministro da Fazenda de Jair Bolsonaro , já combinou com o presidente eleito: o projeto que torna o BC (Banco Central) independente será prioridade. Há 30 anos Guedes defende o BC independente, com mandatos não coincidentes com os do presidente da República — já havia, inclusive, essa proposta no programa de governo (elaborado por Guedes) de Afif Domingos, candidato à Presidência em 1989.
O objeto do desejo do “Posto Ipiranga” é que Ilan Goldfajn permaneça no comando do BC. Cairia como uma luva: Ilan ficaria no cargo sob Michel Temer por dois anos e por mais dois anos no governo Bolsonaro. Mas, atenção: Ilan não foi convidado ainda (assim como ninguém foi ainda nem sondado para a presidência do BNDES).
Ao menos na equipe econômica, o que Guedes tem dito aos mais próximos é que são duas as condições obrigatórias para que um quadro do governo Temer permaneça: ter um excelente desempenho e motivação para seguir com o novo governo. Ilan com sobras preenche o primeiro requisito. Não se sabe se cumpre o segundo.
Apesar das idas e vindas de Bolsonaro em relação ao Ministério da Indústria e Comércio, o que Guedes tem garantido a interlocutores é que ele será mesmo extinto. Vai virar uma supersecretaria integrada ao Ministério da Fazenda.
Para comandá-la, vai convidar um empresário sem relação com o governo e nem com relações próximas de entidades como a CNI. Aliás, Paulo Guedes costuma referir-se à CNI como uma turma que ainda está “nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial”. Ou seja, são empresários estão fora do seu tempo, exageradamente protecionistas.
O liberal Guedes vai abrir a economia. Mas não de supetão. A empresários, tem garantido que não é “louco de fazer isso numa velocidade que as empresas não aguentem o tranco”.
Privatizações e divergências
Ultraliberal, o futuro ministro é defensor do Estado mínimo com venda de empresas do governo, e da abertura do mercado para o comércio internacional. Bolsonaro, por sua vez, mostrou-se a favor de ideias estatistas ao longo de seus sete mandatos como deputado federal. Na Câmara, ele votou contra as privatizações da Companhia Vale do Rio Doce e das telecomunicações, e opôs-se a alterações na Previdência dos militares.
Num sinal da influência de Guedes, o novo presidente, agora, já indicou que muitas estatais devem ser vendidas, mas tirou do pacote Banco do Brasil, Caixa e “miolo” da Petrobras.
O governo Bolsonaro terá como prioridades, segundo o economista, as privatizações, a redução do tamanho da máquina pública e a reforma da Previdência. “Primeiro grande item é a Previdência. Precisamos de uma reforma da Previdência”, disse Guedes na noite de domingo (28), após o resultado das urnas.
Ao longo da campanha, a relação entre Guedes e Bolsonaro sofreu altos e baixos em função de divergências em alguns pontos. O novo ministro chegou a cogitar a criação de um imposto nos moldes da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e a unificação da alíquota do Imposto de Renda. A ideia pegou mal entre o eleitorado, e o então candidato veio a público desmentir o economista e determinar que ele reduzisse as atividades eleitorais.
Paixão e ódio
Guedes é uma figura que desperta paixão e ódio no mercado. Suas ideias ultraliberais, por exemplo, tinham pouca recepção em duas das mais importantes faculdades de economia do Rio de Janeiro: a FGV (Fundação Getulio Vargas) e a PUC (Pontifícia Universidade Católica). Em ambas, ele chegou a dar aulas como professor horista (tempo parcial), mas não se ambientou.
O futuro ministro coleciona inimigos, como os ex-presidentes do Banco Central Luiz Carlos Mendonça de Barros e Persio Arida. Na época da fundação do banco Pactual – onde foi sócio e estrategista-chefe -, no início da década de 1980, Guedes fez fama por suas críticas ácidas à política econômica conduzida por seus ex-colegas da PUC-RJ.
Alvo de duas investigações
Economistas o qualificam como um “especulador da velha guarda”. Eles, porém, defendem Guedes das acusações de “irregularidades na gestão de dinheiro de fundos de pensão de estatais”. Ele é alvo em ao menos duas
investigações de autoridades federais.
Em uma delas, o MPF (Ministério Público Federal) apura se ele cometeu gestão fraudulenta ou temerária ao se associar a diretores dos fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras), Funcef (da Caixa) e Postalis (dos Correios) entre fevereiro de 2009 e junho de 2013. Também é investigado, em inquérito no âmbito da operação Greenfield, sob suspeita de emissão e negociação de títulos mobiliários sem lastros ou garantias.