Domingo, 18 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 30 de julho de 2016
O caminhão faz o retorno em uma rodovia duplicada e bem sinalizada da Flórida (EUA). Da direita, vem um automóvel que não diminui a velocidade. O choque é violento: o sedã perde a capota sob o chassi da carreta e, mesmo assim, continua andando por mais 400 metros até bater em um poste telefônico. Foi assim que ocorreu, em 7 de maio deste ano, o primeiro acidente fatal com um veículo autônomo – ou, no caso, o semi-autônomo Tesla Model S. Em frente ao volante (mas não necessariamente no comando do carro) estava Joshua Brown, 45 anos, entusiasta da tecnologia. Segundo um relato do motorista do caminhão, Brown assistia a um filme de Harry Potter no momento da batida.
O caso ainda está sendo investigado pelo NHTSA, o órgão que cuida da segurança de trânsito nos Estados Unidos. A principal hipótese é de que o dispositivo Autopilot, que dirigia o Tesla na hora da colisão, não conseguiu diferenciar a enorme carreta-baú branca do céu claro. Confundido, o computador não freou o carro, matando seu dono.
Tecnologias diferentes.
Desde então, pipocam na imprensa casos de pequenos acidentes envolvendo os Tesla S. Os dispositivos de direção autônoma passaram a ser vistos como vilões. Antes de comparar os carros autônomos a HAL 9000, o computador assassino do filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, vale conhecer algumas características técnicas e operacionais desses sistemas que, já na próxima década, farão parte de nossas vidas. Para começar, é importante saber que a corrida pelos carros autônomos tem se dado por dois caminhos: o do Google e o do Tesla. São filosofias e métodos bem distintos.
O Google aposta em veículos 100% autônomos, eliminando totalmente a necessidade de um motorista humano. A ideia é que o ocupante do veículo informe seu destino e, a partir daí, não tenha qualquer controle sobre a máquina, que assumirá todas as funções – tanto que os protótipos do Google Car não têm volante ou pedais. A empresa aposta na inteligência artificial, que permitirá aos carros acumularem conhecimento trocando informações entre si. Além disso, os protótipos da companhia usam o LIDAR (Light Detection And Ranging), espécie de radar sensível à luz, que usa laser para criar uma versão virtual em 3D do mundo à sua volta.
Já para o visionário Elon Musk, dono da fábrica de automóveis elétricos Tesla, o futuro é aqui e agora. Para não perder tempo na busca de um carro 100% autônomo, passou a equipar seus carros, em outubro de 2015, com o Autopilot. Sozinho, o sistema tira o veículo da garagem e, em rodovias, acelera, freia e faz curvas, mantendo o carro na faixa. Mesmo assumindo até 90% das funções da direção, é tratado como um auxiliar do motorista humano – e este continua indispensável.
Como o uso do LIDAR ainda é proibitivamente caro, o Autopilot da Tesla partiu para uma solução alternativa: usar câmeras e um pequeno radar dianteiro. “Acho que é possível resolver tudo sem termos que apelar para o LIDAR. Não sou fã desse dispositivo e não acho que faça sentido no contexto atual”, declarou Musk.
Segurança.
Com acidentes ou não, os autônomos deverão, em poucos anos, tornar os carros comuns tão obsoletos quanto os cavalos. Segundo as estatísticas do NHTSA, uma pessoa morre a cada 150 milhões de quilômetros percorridos por veículos convencionais nos Estados Unidos. Segundo a Tesla, o acidente no dia 7 de maio foi a primeira fatalidade em 210 milhões de quilômetros percorridas com o Autopilot. A julgar pela amostra, um carro ainda é mais seguro quando dirigido por uma máquina do que por humanos. (AG)