Com mais de um bilhão de contas cadastradas, o Instagram é uma das principais redes sociais do mundo e a mais prejudicial à saúde mental dos usuários, de acordo com o estudo da instituição Royal Society For Public Health. Mas por que a plataforma, que era considerada um passatempo, tornou-se vilã para o psicológico dos próprios utilizadores?
Em maio deste ano, a entidade de saúde pública do Reino Unido entrevistou 1.479 pessoas, de 14 a 24 anos, e constatou que 90% delas utilizam redes sociais. Para esta parcela, o Instagram é a plataforma que mais influencia o sentimento de comunidade, bem estar, ansiedade e solidão, seguido das redes Snapchat, Facebook, Twitter e YouTube, respectivamente.
Dados da Pew Research Center de 2018 mostram que jovens adultos são os usuários mais ativos no Instagram: 64% das pessoas entre 18 a 29 anos possuem uma conta. Segundo o especialista em comportamento digital e sócio da SEVEN Grupo Digital, Thiago Valadares, a exposição dos jovens na web é intensa. “O jovem produz muito mais conteúdo e tende a usar a ferramenta de maneira excessiva, consequentemente ele fica muito mais exposto às emoções”, explicou.
O publicitário Lucas Alves, 28, sentiu na pele os efeitos negativos do Instagram. Ele possuía uma conta ativa desde 2012 e chegava a passar até cinco horas por dia procurando conteúdo. Dentre as preocupações, postar fotos era uma delas. Ele lembra que começou a perceber isso quando viajava, porque já arrumava a mala pensando em como iria ficar a foto e a postagem.
O sentimento de comparação era constante, mesmo com o mural repleto de fotos. “Eu via ali só as viagens legais das pessoas e isso começou a me deprimir, mesmo sabendo que aquilo não era 100% real. A impressão era que minha vida estava num momento ruim, e no feriado de 1º de maio, eu decidi deletar o perfil”, contou Alves.
Além da comparação constante e a necessidade de se mostrar ao outro, soma-se um terceiro sentimento comum perseguido pelas pessoas – o perfeccionismo em relação às próprias fotos. Segundo o pós-doutor em psicologia e professor Roberto Fernandes, muitos indivíduos fazem postagens para que o outro confirme sua vivência.
No entanto, ele revela que esse fenômeno não surgiu com as redes sociais, elas apenas funcionam como meio de ampliar e alimentar o sentimento narcísico das pessoas. “O Instagram está muito ligado à necessidade de espelhamento. Não basta viver, você precisa que o outro veja”, esclareceu o psicólogo.
“Vida de Instagram”
Um feed com diversas fotos de viagens, cabelo sem frizz, e às vezes, até com um céu mais azul, é um cenário bastante frequente. A prática é tão recorrente, que a expressão “vida de Instagram” tornou-se comum para falar sobre perfis que aparentam ter a vida perfeita.
A própria plataforma disponibiliza filtros para que os usuários possam retocar as suas fotos. Para quem gosta de ir além, opções de aplicativos criados exclusivamente para edição de fotos não faltam no mercado.
Segundo Valadares, a melhor forma de usar as redes sociais sem ser tão afetado psicologicamente é selecionar quem deseja seguir. “É um local que o usuário pode escolher consumir o conteúdo apenas das pessoas que gosta; hoje é possível parar de receber publicações de alguém sem dar unfollow, então a própria ferramenta realiza melhorias para que você consiga se adaptar àquele mundo”, explicou.
