Sábado, 01 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de junho de 2020
O novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva, alterou o currículo disponível da plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A modificação ocorreu após o reitor da Universidade Nacional de Rosario (Argentina), Franco Bartolacci, revelar que Decotelli não obteve título de doutor, e que teve a tese reprovada.
No currículo de Decotelli, constava originalmente a informação de doutorado na Universidade Nacional de Rosário concluído em 2009, com a tese “Gestão de Riscos na Modelagem dos Preços da Soja”, sob orientação de Antonio de Araujo Freitas Jr.
Na sexta (26), o título da tese e o nome do orientador foram excluídos. O campo “Título” foi preenchido com “Créditos concluídos”. E, no campo “Orientador”, passou a ser listado: “Sem defesa de tese”. Em entrevista ao jornal O Globo, o reitor Franco Bartolacci explicou que Decotelli estudou na instituição, completou a carga horária, mas não finalizou o curso para obter a titulação.
“Ele cursou o doutorado, mas não finalizou. Falta a aprovação da tese, que é requisito indispensável para a conclusão”, disse Bartolacci. O Ministério da Educação afirmou que o ministro concluiu em fevereiro de 2009 todos os créditos do doutorado em Administração pela Faculdade de Ciências Econômicas e Estatística da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina.
O MEC encaminhou o certificado de conclusão dos créditos por parte do ministro, no entanto, não respondeu se além de cumprir a carga horária das disciplinas, Decotelli defendeu sua tese na universidade, critério para obter a titulação. De acordo com o reitor da Universidade Nacional de Rosário, o certificado mostra apenas a conclusão do curso, mas não a obtenção do título de doutor, para o qual é necessário defender a tese.
Plágios
Indícios de plágio em mestrado Além das suspeitas levantadas contra seu título de doutor, logo surgiram indicações de que o novo ministro teria plagiado sua dissertação de mestrado, apresentada à FGV em 2008. Os indícios foram apontados pelo professor Thomas Conti, do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa). Em sua conta no Twitter, ele publicou trechos da dissertação apresentada por Decotelli e de um relatório administrativo do Banrisul na CVM (Comissão de Valores Imobiliários) que são praticamente idênticos. Em nenhum momento, no entanto, o texto de Decotelli diz se tratar de referência ou citação.
Um levantamento realizado pelo portal UOL mostrou ainda que Decotelli copiou ao menos quatro trechos de diferentes trabalhos acadêmicos de forma literal, sem indicar a referência ou fazer citações. Conti afirmou que decidiu investigar o mestrado do novo ministro depois que um seguidor do Twitter abriu a dissertação e apontou que no resumo em inglês havia erros gritantes e palavras em vermelho.
“Isso é o tipo de problema que nós que orientamos trabalhos acadêmicos e participamos de bancas já ficamos em alerta de que o trabalho foi, no mínimo, mal feito e mal revisado”, disse. Procurada pelo UOL, a Fundação Getulio Vargas informou que “vai apurar os fatos referentes à denúncia de plágio na dissertação do Ministro Carlos Alberto Decotelli”. “A FGV está localizando o professor orientador da dissertação para que ele possa prestar informações acerca do assunto.”