Terça-feira, 25 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de março de 2019
No meio de uma disputa interna que já rendeu 16 demissões no MEC (Ministério da Educação), a saída de Marcus Vinicius Rodrigues da presidência do Inep (Instituto Nacional de Estudos Educacionais) é a primeira com o caráter de punição. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Rodrigues, porém, diz que a decisão de suspender a avaliação de alfabetização, fato que valeu seu desligamento na terça-feira (26), não veio dele, mas do próprio ministério.
Ele critica a falta de projeto da pasta e o próprio ministro da Educação, Ricardo Vélez. Segundo ele, Vélez é limitado em gestão e educação. Na Câmara, Vélez disse na quarta-feira (27) que Rodrigues foi demitido porque “puxou o tapete” dele. Segundo ele, a suspensão da prova teria sido feita sem seu consentimento.
Também na quarta-feira, o diretor de Avaliação da Educação Básica do instituto, Paulo Cesar Teixeira, responsável pelo Saeb e Enem, pediu demissão em apoio a Rodrigues.
O cancelamento da prova de alfabetização consta em portaria publicada na segunda-feira (25) com as regras para o Saeb, avaliação federal usada para o cálculo do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação). Toda a portaria foi tornada sem efeito na terça. Ligado aos militares, Rodrigues é professor da FGV. O general Francisco Mamede de Brito Filho deve assumir o cargo. Leia abaixo trechos de uma entrevista com Rodrigues.
O ministro insistiu que o senhor não o avisou, eximiu o secretário de Alfabetização e declarou que o senhor “puxou tapete” dele. Como o senhor encara essa situação?
“O ministro tem o secretário de alfabetização [Carlos Nadalim], que além de ter participado de todas as reuniões, mandou um ofício. O ministro chegou a citar o ofício? Há três semanas a gente vem discutindo a portaria com várias reuniões no MEC. Essa decisão foi feita no MEC, não no Inep. O Inep avalia, mas quem decide o que eu vou mediar e avaliar é o MEC. Terça-feira passada [dia 19] a minuta da portaria ficou pronta e foi apresentada a mim. Eu senti falta da alfabetização e questionei porque o [o ex-secretário-executivo Luiz Antonio] Tozi falava muito sobre isso. A equipe questionou e ele [Nadalim] disse que era aquilo mesmo. Como sempre faço, pedi por escrito e o Nadalim fez o documento. Ele diz no documento que vai fazer a medição na alfabetização em outro momento. Dentro das obrigações do presidente do Inep, não preciso apresentar minhas portarias para o ministro. Eu não puxei o tapete de ninguém. Não tenho o perfil de puxar o tapete de ninguém. Quem está puxando o tapete é o próprio ministro diante da sua limitação em gestão.”
O senhor entende que foi demitido injustamente?
“Minha demissão ocorreu e penso que foi até oportuna. Oportuna porque a minha demissão pode fazer com que os governantes abram os olhos para o que está sendo feito na educação do Brasil e para os perigos que estamos cometendo com a gestão do ministro Ricardo. O que eu estou fazendo é a busca da melhoria do país. Com minha saída, posso explicitar os problemas que toda mídia e a sociedade brasileira estão sentindo desde janeiro.”
Como o senhor vê o ministro?
“O ministro Ricardo é uma pessoa do bem, com muita boa vontade, mas apresenta muitos limites no que diz respeito à gestão e também à sua formação em educação. Não é educador nem gestor. Penso que, com o presidente Bolsonaro e com este governo pelo qual trabalho desde julho [de 2018], poderíamos ter buscado um nome técnico ou um gestor para que pudéssemos de fato melhorar a educação do Brasil.”