Sábado, 01 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de setembro de 2017
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, afirmou nesta terça-feira que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, “fez uma chantagem” com a Corte. O magistrado ainda voltou a chamar Janot de “delinquente”.
“O procurador-geral da República, mais uma vez, deu curso à sua estratégia de delinquente e fez uma chantagem com o Supremo Tribunal Federal”, disse Gilmar, que está em Paris e tem retorno ao Brasil previsto para quinta-feira, no feriado de 7 de setembro.
Rodrigo Janot abriu investigação interna nesta segunda-feira para rever a delação premiada de três dos sete executivos da JBS: Joesley Batista, Ricardo Saud e Francisco de Assis e Silva.
Em conversa gravada aparentemente sem querer, os dois primeiros citam membros do Supremo num contexto que pode indicar irregularidades, segundo Janot. É a esse ponto específico que Gilmar se refere como “chantagem”.
Os delatores ainda teriam dito que tinham sido ajudados pelo ex-procurador da República Marcello Miller na elaboração da proposta de colaboração assinada com a Procuradoria-Geral da República.
“Um dos objetivos era me gravar, entregar a minha cabeça, era assim que o Janot operava”, atacou Gilmar. Sobre o suposto plano de grampear suas conversas, Gilmar disse que ‘isso nem é relevante’.
“Só serve para mostrar, a rigor, que eles brincam, dizendo ‘ah estamos entregando aquele governador amigo, mas precisa atender o procurador’. Quer dizer, isso mostra que estão usando a delação premiada para outra finalidade, para vingança política, para delírios, talvez [Janot] tenha imaginado que poderia ser um dia presidente da República, governador de Minas ou coisa desse tipo. Faltou o uso da institucionalidade. Mas, felizmente isso [a revelação do novo áudio] ocorreu, vamos dizer, sorte do Brasil.”
Há indícios de que a conversa foi gravada em 17 de março, quando Miller ainda era procurador da República. Em 5 de abril, ele se afastou da instituição e logo depois passou a atuar como advogado dos delatores. “Áudios de conteúdo grave, eu diria gravíssimo, foram obtidos pelo Ministério Público Federal na semana passada. A análise de tal gravação revelou diálogo entre dois colaboradores com referências indevidas à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal. Tais áudios também contêm indícios, segundo esses dois colaboradores, de conduta em tese criminosa atribuída ao ex-procurador Marcelo Miller”, afirmou Janot.
Enquanto o áudio, que tem duração de aproximadamente quatro horas, continuar sob sigilo, não é possível saber quais ministros foram implicados na gravação. Cabe ao ministro Edson Fachin, do STF, decidir sobre a manutenção ou não desse sigilo.
Relação promíscua
Questionado se via uma relação promíscua entre delatores, como Joesley, e a procuradoria – o ex-procurador Marcelo Miller é suspeito de ter auxiliado o empresário a preparar as gravações –, Mendes foi taxativo. “Com certeza. É fato gravíssimo”, afirmou, estimando que o acordo de delação premiada firmado entre a PGR e Joesley “terá de ser completamente revisto”.
Sobre os trechos do áudio que mencionam seu nome como um dos ministros do STF que estariam envolvidos em corrupção, Mendes ironizou, chamando a ação da PGR de “Operação Tabajara”.
“Já me falaram que é qualquer coisa ligada à aprovação da delação no Supremo Tribunal Federal e coisa do tipo”, disse o ministro, explicando a razão pela qual seu nome teria sido citado. “Eu tenho a impressão de que o procurador-geral tentou trazer o Supremo para auxiliá-lo nessa Operação Tabajara. É uma coisa muito mal-sucedida. O Supremo não tem nada com isso”, garantiu.
Indagado sobre se o Supremo está acima de qualquer suspeita, o ministro respondeu: “Com certeza!”. Minutos antes, Mendes havia afirmado: “Se há erro no Supremo foi não ter colocado limites nos delírios do Janot”. (AG/AE)