Segunda-feira, 03 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de abril de 2018
“Eu pensei que a sífilis era algo da Idade Média, que havia desaparecido e que não era algo que poderia ocorrer nos tempos modernos.”
Quem diz isso é Gavin, jovem britânico que descobriu ter a doença ao realizar um teste caseiro para detectar infecções sexualmente transmissíveis.
Sem apresentar nenhum sintoma da doença, ele teve sorte ao identificá-la antes de sofrer consequências que poderiam ser muito graves.
“Descobri a infecção na etapa secundária (da doença), um ano depois do contágio. Depois dessa etapa, a doença pode causar loucura, cegueira e até mesmo a morte.”
O caso de Gavin serve de alerta para um aumento dos casos notificados de sífilis em diversos países do mundo, incluindo o Brasil.
Na Inglaterra, por exemplo, o número de casos da doença chegou ao maior nível desde 1949; nos EUA, dados de 2017 apontam que a sífilis avançou em todas as regiões e na maioria dos grupos etários. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cada ano, 5,6 milhões de pessoas contraem sífilis no mundo. E é uma infecção que se propaga mais facilmente que outras DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), como gonorreia e clamídia.
No Brasil, a sífilis adquirida (ou seja, em adultos) teve aumento de 27,9% entre 2015 e 2016 (dados mais recentes disponíveis), segundo o Ministério da Saúde. Em 2016, foram registrados 87.593 mil casos em adultos. As infecções por sífilis congênita em bebês, passada de mãe para filho na gestação, cresceu 4,7%.
O ministério disse em 2017 que esses números são resultado de um desabastecimento da penicilina (medicamento mais efetivo contra a sífilis), mas também do aumento nos diagnósticos, por conta da distribuição de testes na rede pública de saúde.
Sintomas
Em alguns casos, os sintomas da sífilis em adultos são: úlceras genitais; erupções generalizadas na pele, ou na palma das mãos e plantas dos pés; cansaço e dor de cabeça; e febre e dor nas articulações.
O problema é que, diferentemente do que acontece com outras DSTs, uma pessoa pode estar infectada com sífilis e não apresentar nenhum sintoma. E, dessa forma, acaba contagiando outras pessoas inadvertidamente.
Foi o caso de Gavin, que descobriu a doença justamente na fase chamada sífilis secundária, que é a etapa mais contagiosa da doença.
“Eu não tinha nenhum sintoma. Não sabia que estava infectado, porque a doença fica oculta. E você acaba passando ela adiante sem sequer saber”, diz.
A sífilis é provocada pela bactéria Treponema pallidum e transmitida sobretudo pela via sexual (pela lesão genital que causa), seja vaginal, anal ou oral.
É, também, transmitida de mãe para filhos durante a gravidez -e também a segunda maior causa de mortalidade entre recém-nascidos no mundo.
Para cumprir a meta da OMS de eliminar as mortes por sífilis congênita, o Brasil terá de reduzir a taxa atual de 6,8 casos por mil nascidos vivos para no máximo 0,5 por mil.
Isso seria factível no curto prazo “porque a sífilis é facilmente detectada e tratada. Tendo o teste rápido e tendo a penicilina, é possível alcançar a eliminação (da doença)”, disse à Agência Brasil em 2017 Adele Benzaken, diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle de DSTs, HIV/Aids e Hepatites Virais do ministério.
O tratamento consiste em antibiótico – penicilina benzatina para adultos e penicilina cristalina em bebês.
É crucial, porém, fazer o diagnóstico o mais cedo possível, uma vez que, sem tratamento, a infecção pode perdurar anos e causar problemas sérios de saúde a longo prazo, como derrames, sintomas de demência, perda de coordenação, cegueira e males cardíacos. E, ainda que a sífilis possa ser tratada nesse estágio posterior, os danos causados por ela podem ser irreversíveis.
Por fim, as úlceras genitais causadas pela sífilis são uma porta de entrada para o contágio também pelo vírus HIV, como foi o caso de Gavin.