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Por Redação O Sul | 12 de fevereiro de 2020
No documento Querida Amazônia, divulgado na manhã desta quarta-feira(12), o papa Francisco rejeitou a proposta de que homens casados sejam ordenados padres em comunidades afastadas da região amazônica. A proposta foi discutida pelos bispos durante o Sínodo da Amazônia, realizado em outubro, no Vaticano.
Francisco rejeitou a medida mesmo após a recomendação positiva de bispos. A “exceção amazônica” do celibato foi levantada por bispos em razão das “enormes dificuldades de acesso à eucaristia”, já que parte das comunidades da região ficam meses e até vários anos sem a presença de um sacerdote. Para diminuir o problema, foi pedido ao papa que autorizasse a ordenação de sacerdotes sem exigência do celibato clerical.
A medida, frisaram os bispos favoráveis, seria aplicada a “homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiteriado”. Outra exigência é que esses homens tivessem “uma família legitimamente constituída e estável”.
A estratégia foi criticada veementemente por bispos conservadores. Francisco foi atacado por posições contrárias de representantes dos mais variados níveis dentro da Igreja Católica, todos opostos à ideia de “tirar do sacerdócio aquilo que o torna mais especial”. O cardeal canadense Marc Ouellet chegou a publicar um livro inteiro defendendo o celibato clerical e chegou a enviar dois exemplares da obra diretamente ao papa.
Em resposta à falta de sacerdotes na região amazônica, em vez de citar o pedido pelo ordenamento como padres de homens com família já constituída, o pontífice sugeriu dar ênfase ao trabalho missionário itinerante e que diáconos permanentes, mulheres religiosas e leigos “assumam responsabilidades importantes”.
Até Bento XVI, seu antecessor que havia prometido manter-se afastado da vida pública quando renunciou ao cargo, entrou na conversa coassinando a autoria de um livro que também defende o celibato – e depois pediu para que seu nome fosse retirado da obra. “A habilidade de renunciar ao casamento para se posicionar completamente à disposição do Senhor tem se tornado um critério para o ministério sacerdotal”, escreveu Bento XVI.
Apesar da tradição, a regra que prevê o celibato entre padres não é um dogma da Igreja Católica, o que significa que ela pode ser alterada ou revogada, em tese. Um dos últimos momentos de revisão do celibato foi em 2009, quando Bento XVI permitiu que padres anglicanos casados fossem convertidos ao catolicismo. Na ocasião, ele deixou claro que a medida não significava uma mudança abrangente na postura da Igreja. Em 2019, durante coletiva de imprensa, o próprio Francisco se posicionou sobre o tema. “Diria que não concordo com o celibato opcional”, afirmou, classificando a prática como um “presente para a Igreja”.
Na chamada exortação apostólica do Sínodo dos Bispos, o pontífice caracteriza como “desigual” a presença de padres na área, reforça a importância de preservação do meio ambiente e pede aos bispos da América Latina para “promoverem a oração” por mais vocações e aos missionários para irem à Amazônia.
“Exorto todos a avançar por caminhos concretos que permitam transformar a realidade da Amazónia e libertá-la dos males que a afligem”, afirma Francisco, no texto redigido em espanhol e finalizado no dia 2 de fevereiro. O documento está disponível no link do Sínodo da Amazônia.
O texto está elaborado em quatro capítulos descritos como “sonhos” do pontífice: Social, em defesa dos mais pobres e povos nativos; Cultural, sobre a preservação da riqueza dos povos; Ecológico, sobre o resguardo da beleza natural; e Eclesial, dirigido às comunidades cristãs, para dar à Igreja “rostos novos com traços amazônicos”.