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Colunistas O poço da vida

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Enquanto há vida, existe uma chance de descobrirmos caminhos e maneiras de reconstruir nossos sonhos

Foto: Divulgação
Enquanto há vida, existe uma chance de descobrirmos caminhos e maneiras de reconstruir nossos sonhos. (Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Em uma bela fazendinha, cercada por campos verdes e árvores frutíferas, vivia um homem e sua família, que pareciam ter tudo o que desejavam.

Havia fartura de leite, trigo, frutas e verduras, além de uma família amorosa que o apoiava em tudo. No entanto, havia algo que o inquietava: ele sonhava em construir seu próprio poço.

Cansado de buscar água no riacho, cujas águas cristalinas serpenteavam por suas terras, certo dia decidiu que finalmente era hora de cavar. Determinado a realizar seu sonho, mesmo contrariando a preocupação da família (que era contra), ele começou a escavar.

Os dias eram longos e árduos; a terra era dura e repleta de pedras, e ninguém da família o ajudava. Parecia que esse era um poço que ele teria de escavar sozinho…

Os caprichos do tempo se alternavam entre sol escaldante e chuvas geladas e torrenciais. Mas, mesmo com toda a dificuldade, aquele homem estava decidido e continuou a cavar, dia após dia, ignorando os avisos de que talvez fosse melhor desistir, que não era seguro.

Mas, contrariando todos, ele continuou, mesmo quando percebeu que sua saúde e até mesmo o humor já estavam sendo afetados.

Finalmente, após muito esforço, ele alcançou o fundo do poço. Mas, ao olhar para cima, percebeu o quanto sua decisão tinha sido precipitada…

O buraco era profundo demais e cada tentativa de escalar a parede íngreme de volta terminava em um novo escorregão que o levava de volta. A frustração tomou conta dele, pois parecia estar perdido…

Até que, então, sua mulher, percebendo sua ausência, foi até o poço e atirou-lhe uma corda. Com cuidado e determinação, ele agarrou a corda e começou a subir.

O caminho de volta foi tão difícil quanto o da ida; escorregões e cansaço ameaçavam fazê-lo desistir novamente. Mas, com fé e paciência, ele conseguiu retornar à superfície, onde começou a refletir sobre quão irresponsável havia sido e tudo que colocou em risco por causa dessa sua obsessão.

Reflexão

A história desse homem remete a uma metáfora, um espelho da vida de muitos de nós.

Às vezes, as escolhas que fazemos nos levam a caminhos suspeitos. Sabemos que não devemos cavar mais fundo em certas situações, seja em relacionamentos problemáticos ou decisões impensadas envolvendo até mesmo experiências com drogas.

Não somos apenas seres fracos. Somos teimosos e, muitas vezes, insistimos na busca por algo que não faz sentido. Mas achamos que temos o direito de nos aventurar, esquecendo que muitas pessoas à nossa volta dependem de nós e nos amam de forma incondicional…

Isso quando não somos seduzidos pelos vícios e outros prazeres efêmeros da vida. Finalmente, quando chegamos ao fundo do poço, uma sensação que temos é que tudo está perdido…

Reascender

Recentemente, vi um morador de rua passando em frente à minha casa. Ele era um catador de latinhas, um homem adulto aparentemente saudável, mas com olhar sofrido, ombros caídos e mal vestido, carregando nas costas um saco cheio de recicláveis.

Olhando para ele, lembrei-me do homem da fazendinha. Pensei: “Esse homem também já teve sua fazendinha”.

Talvez, como o fazendeiro da história, mesmo tendo sido avisado, deve ter cavado muito para chegar onde chegou…

Por consequência, sua vida pode ter se afastado da família; ele pode ter perdido sua casa, carro e outros bens, além dos seus próprios sonhos. Mas será que ainda há esperança para ele caso decida cavar seu caminho de volta?

Metáfora

Assim como aquele homem no poço enfrentou suas dificuldades para voltar a ver a luz do sol e emergir para a liberdade, todos nós temos a capacidade de nos reerguer, libertar e reinventar após as quedas e rasteiras desta vida.

O que vou dizer agora muitos vão rir e achar que é impossível, mas qualquer um de nós poderia estar no lugar daquele catador de latas no futuro. Assim como ele poderá estar no lugar de qualquer um de nós que está lendo essa crônica neste momento. Pois a vida é cheia de surpresas e reviravoltas…

É preciso ter boa vontade para buscar novamente aquilo que se perdeu. Não é preciso chegar até o fundo do poço para perceber isso; não se cai diretamente para lá; é preciso cavar muito para isso.

Se alguém bater no seu ombro e insistir para você não continuar a cavar, talvez seja a hora de você parar e refletir que aquela pessoa tem razão e que é uma má ideia continuar cavando, que esteja na hora de você voltar para sua “fazendinha”. Já pensou que você podia ser feliz lá e não sabia?

E é fundamental entender que o caminho de volta pode ser tão desafiador quanto o da ida; requer paciência e coragem para enfrentar os obstáculos além da sua própria determinação.

Você vai precisar da mão de Deus para te ajudar, talvez ele te atira em uma corda. Mas, para isso, é preciso que você peça sua ajuda.

Reflexão final

Quando olhei novamente para o catador de latinhas, senti uma faísca de esperança. Fiquei com vontade de lhe dar uma palavra de incentivo. Mas, quando percebi, ele já estava se afastando e era tarde demais.

Ele pode estar no fundo do poço agora, mas ainda há tempo para reescrever sua história. Esse foi meu consolo e, por isso, orei por ele.

Afinal, enquanto há vida, existe uma chance de descobrirmos caminhos e maneiras de reconstruir nossos sonhos…

* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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