Terça-feira, 25 de novembro de 2025
Por Fabio L. Borges | 25 de novembro de 2025
O "poeta guerreiro" não é quem escreve bonito. É quem escreve verdadeiro
Foto: DivulgaçãoEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Um homem não encontra a própria voz de um dia para o outro. Ela não surge num lampejo, nem nasce pronta como talento divino.
A minha voz veio das quedas, dos silêncios, das dores, das vergonhas que precisei engolir, das batalhas que a vida me obrigou a travar…
Há quem escreva para aparecer. Há quem escreva para existir. Eu escrevo para sobreviver.
Não escolhi ser cronista; fui empurrado para essa condição por tudo aquilo que tentei esconder de mim mesmo durante muito tempo.
Se existe um “poeta guerreiro”, ele nasce exatamente aí: no ponto onde um homem entende que escrever é a forma mais pura e honesta de não enlouquecer.
A transição: de homem a cronista
Um cronista não nasce cronista; ele vai sendo forjado nos meandros da vida. Nas dores que viram metáforas, nas derrotas que afiam o olhar, nas injustiças que nos dão munição para continuar.
Aprendi a transformar cicatrizes em tinta, e tinta em entendimento humano. Cada texto que eu escrevo vem de algum lugar que já doeu em mim. E talvez seja por isso que quem me lê sente verdade: porque não tem nada inventado, nada enfeitado, nada mascarado.
O que me move: meu DNA autoral
O mundo nunca me impressionou. Eu sempre preferi decodificá-lo. Sempre fui mais observador do que falante, apesar de às vezes falar demais.
Sempre enxerguei além do óbvio, sempre prestei atenção naquilo que a maioria ignora, principalmente nas entrelinhas.
Minha voz só surgiu quando parei de tentar agradar e comecei a traduzir aquilo que as pessoas sentem, mas não sabem nomear ou transformar em palavras.
Talvez essa seja a minha função no mundo: organizar o caos alheio enquanto lido com o meu…
Minha visão: luz, sombra e síntese poética
Eu enxergo o ser humano como um mosaico de luz e sombra. Tenho aversão às narrativas prontas, aquelas que tentam embrulhar a mentira com laço de verdade. Prefiro a realidade nua e crua, mesmo quando dói.
Meu radar social capta comportamento. Minha lupa percebe o detalhe que passa despercebido. Minha alma faz a síntese poética.
Talvez seja isso que me tornou cronista: essa mistura de análise, ironia, humor, humanidade e uma certa rebeldia espiritual.
O salto final: quando a consciência chega
O “poeta guerreiro” não é quem escreve bonito. É quem escreve verdadeiro. É quem encarou seus fantasmas, queimou suas máscaras, venceu o próprio caos
e, enfim, encontrou sua voz.
A voz que não treme. A voz que não pede desculpas por existir. A voz que, quando chega, muda o homem, enobrece e move quem lê.
Hoje, eu sei exatamente quem sou quando escrevo. E, mais ainda: sei quem eu não sou…
Celebrando um ano no Jornal O Sul
No último dia 22, completei um ano da minha coluna no jornal O Sul. E, olhando para trás, vejo que não foi apenas um ano de textos. Foi um ano de observação profunda, de confrontos internos, de noites em claro, de silêncio antes da palavra certa, de vida que se derrama no papel.
Em cada crônica, deixei um fragmento meu, às vezes ácido, às vezes poético, às vezes engraçado e às vezes filosófico, mas sempre verdadeiro.
Aprendi que escrever semanalmente não é apenas escrever: é se expor. É colocar o peito na vitrine. É apostar que a honestidade ainda tem valor num mundo que prefere máscaras.
Agradeço a cada leitor que me acompanha, concordando ou discordando, mas sempre caminhando junto.
A missão continua: observar o mundo, traduzir o cotidiano, provocar reflexões
e, principalmente, honrar essa grife que construí com trabalho, dor, humor e alma.
* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.