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Por Redação O Sul | 3 de agosto de 2017
Na quarta-feira, Rodrigo Maia (DEM-RJ) havia dormido pouco mais de quatro horas quando se sentou à ampla mesa de madeira na residência oficial da Presidência da Câmara para tomar café da manhã. Faltavam apenas 40 minutos para o início da sessão que analisaria a denúncia contra Michel Temer e o comandante da Casa sabia que o dia seguinte seria o primeiro de um novo projeto político: o seu.
Primeiro nome na linha de sucessão ao Palácio Planalto caso o presidente seja afastado do cargo, Maia começou esse processo no dia 17 de maio, com a expectativa de poder quase que imediata. Nem mesmo auxiliares próximos a Temer acreditavam que o governo sobreviveria à crise política deflagrada com a delação da JBS/Friboi, que o implicava diretamente.
Era para ser uma corrida de 100 metros mas, para Maia, os planos para se tornar inquilino do gabinete presidencial viraram maratona. Enquanto cortava a omelete de clara de ovos e queijo branco, empurrada com um copo de suco verde e três xícaras de café sem açúcar – a dieta só é cumprida à risca pela manhã, o presidente da Câmara repassava a razão da permanência de Temer no posto: o apoio parlamentar.
Em uma lista consultada no celular, contabilizava a quantidade de votos que acreditava ser a favor do presidente nesta quarta – de 220 a 240 dos 513 deputados, mas o número poderia aumentar, já alertava desde cedo. O peemedebista acabaria tendo 263 votos ao seu lado, sendo beneficiado ainda por 19 ausências e 2 abstenções. Nos dias que antecederam a votação histórica, Maia trabalhou a favor de Temer.
Depois dessa etapa, traçou a sua estratégia pessoal e a de seu partido, o DEM, em um projeto que desembocará nas eleições de 2018. Maia decidiu se descolar da imagem impopular de Temer e criar uma agenda exclusiva da Câmara, para além da pauta econômica, que não será abandonada, ele diz, mas dividirá espaço com projetos que estejam mais conectados com a sociedade. Adoção, planos de saúde, segurança pública e medidas em defesa dos animais estão entre os pontos que ele pretende atacar agora.
Além disso, o presidente da Câmara articula para fortalecer a sua legenda, com a migração de integrantes do PSB e de outros partidos. O objetivo é conquistar o eleitor de centro-direita diante da divisão e falta de liderança única do PSDB, além de formar uma base parlamentar mais ampla, que dê capilaridade para um possível candidato à Presidência.
“Aterrissagem”
Maia afirma que 2018 ainda “está distante”, mas admite que é preciso construir o lugar onde vai “aterrissar”. As conversas com os parlamentares desses partidos se misturaram nos últimos dias com o esforço do deputado em conseguir votos para salvar Michel Temer. Maia fez um cálculo político importante nas últimas semanas. Ao ver que seu ânimo para assumir o Planalto crescia junto com a pecha de “traidor”, decidiu que o pragmatismo tinha que se sobrepor à ambição justamente para ter um day-after mais tranquilo.
Ainda em sua casa, na quarta-feira ele respondia de tempos em tempos as mensagens de vários colegas que faziam previsões sobre a sessão e pedia que registrassem presença – eram necessários 342 dos 513 parlamentares em plenário para iniciar a votação. De dentro do carro que o levou à Câmara, às 8h50min, ele fez a primeira ligação para tentar sentir a temperatura do Planalto. O escolhido era o “mais realista” da tropa de choque de Temer, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder do governo na Câmara. O deputado, porém, preferiu não fazer previsões por telefone e pediu para encontrar com Maia no plenário.
O presidente da Câmara registrou presença na Casa exatamente às 9h06min, conversou com Aguinaldo e se sentou para presidir a mesa às 9h31min, quando iniciou a ordem do dia. Conduziu a sessão com relativa calma e até um pouco de descontração. Precisou intervir mais energicamente apenas quando deputados ensaiaram um empurra-empurra: “calma, gente, está todo mundo errado”, disse.