Sábado, 22 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2017
Somente quatro convidados ocupavam a sala de estar da residência oficial de Rodrigo Maia (DEM) momentos antes da votação que selaria o destino político de Michel Temer na quarta-feira. Ao contrário do habitual séquito que costuma desfrutar de café da manhã, almoço e jantar à sua mesa, o presidente da Câmara dos Deputados limitou sua audiência a um marqueteiro, um consultor e só dois deputados, ambos do PSDB. Conversavam com desenvoltura sobre o projeto que hoje mais interessa à classe política: as eleições de 2018.
Antes de abrir a sessão que sepultaria a segunda denúncia contra o presidente – por obstrução da Justiça e organização criminosa –, Maia conversou com os deputados Jutahy Júnior (PSDB-BA) e Carlos Sampaio (PSDB-SP), os dois contrários a Temer, e, por mais de uma hora, discutiu uma possível aliança para o próximo ano entre seu partido, o DEM, e o PSDB. A avaliação ali foi consensual: com baixíssima popularidade e denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República, Temer se tornou “radioativo” na disputa de 2018 e, assim, o PMDB não estaria apto a compor um possível arco com tucanos e democratas.
Desde agosto, o presidente da Câmara tem se distanciado de Temer e articula o fortalecimento do DEM para conquistar uma fatia de centro-direita do eleitorado, que também interessa ao PMDB. A partir de agora, Maia faz um segundo e mais assertivo movimento sobre os tucanos, que hoje têm quatro ministérios e, apesar de divididos quanto ao apoio ao peemedebista, seguem como um pilar importante para o Planalto. A ideia é que o DEM deixe de ser apêndice e se torne protagonista na aliança com o PSDB.
O desejo de Maia para um candidato ideal à Presidência envolve paradoxos: liberal na economia e conservador nos costumes, com respeito às minorias. Enquanto essa figura para o projeto nacional não aparece, Maia articula a aliança com o PSDB em dois Estados: Rio, onde quer lançar seu pai, Cesar Maia, ao governo, e Bahia, onde ACM Neto, prefeito de Salvador e seu aliado, deve se candidatar a Executivo estadual. Naquela quarta, Maia, Jutahy e Sampaio falaram justamente sobre esses cenários, sob os comentários do publicitário Fernando Barros.
Pouco antes, o presidente da Câmara havia conversado com Adriano Pires, consultor do setor de energia. Maia anunciaria naquela noite seu desejo de votar o fim do regime de partilha do petróleo, em um movimento para estabelecer na Casa uma agenda paralela à do governo Temer. O PSDB deve ser um aliado nesse esforço, no primeiro passo prático da aproximação entre tucanos e democratas para 2018.
Há cerca de 15 dias, Maia se reuniu com o líder do partido na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), em um almoço, para elaborar uma proposta de atuação conjunta. As divisões internas do PSDB abriram um flanco para o fortalecimento do DEM nessa parceria. Segundo dirigentes democratas, a fragilidade dos tucanos – em disputa interna pelo comando da sigla e pelo posicionamento no governo – permitirá a inversão de papéis na principal aliança de centro-direita para a próxima campanha.