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Por Redação O Sul | 27 de novembro de 2020
O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, pretende retomar as negociações para restabelecer relações com Cuba, iniciadas por Barack Obama e interrompidas por Donald Trump. O grande desafio será driblar a resistência dos dissidentes na Flórida, que apoiaram o republicano na eleição e ainda são uma força política em um Estado importante.
A política externa dos EUA para Cuba e, em menor grau, para a Venezuela, é ditada pela interna. Exilados e americanos de ascendência cubana e venezuelana, que nutrem profunda antipatia pelos governos de esquerda, ajudaram Trump a vencer na Flórida – eles representam cerca de um terço dos 372 mil votos que custaram a derrota de Biden no Estado.
O democrata aposta que a restauração de voos e os privilégios de remessa de dinheiro, benefícios retirados por Trump, permitirão que seu governo negocie com Havana sem descontentar um eleitorado decisivo. O fracasso das campanhas de “pressão máxima” de Trump contra os governos autoritários de esquerda, em Havana e Caracas, poderia ajudar Biden a trazer o pêndulo do Estado de volta para o lado democrata.
Para a Venezuela, Biden não sinalizou nenhuma mudança nas sanções ou acusações contra altos funcionários, mas disse que planeja se concentrar mais na situação humanitária. Pelo menos no curto prazo, é improvável que o presidente Nicolás Maduro possa comemorar uma grande ruptura em seu isolamento internacional.
No entanto, para Cuba, o presidente eleito sinalizou o retorno das políticas anteriores, que deram esperança de uma abertura na ilha e um novo futuro econômico para os cubanos em dificuldades. Obama foi o primeiro presidente a visitar a ilha em 88 anos. “Acho que Biden tentará mudar a narrativa, para que a política dos EUA volte a ser sobre voos e transferências de dinheiro para cubanos de Miami”, disse Collin Laverty, que coordena visitas educacionais para americanos.
A chance de um afrouxamento nas restrições reacende a esperança na ilha, onde filas para obter alimentos só crescem e a escassez de produtos se agrava. “Estamos muito felizes e esperançosos de que as coisas possam mudar”, disse Nidialys Acosta, empresária de Havana que aluga carros clássicos.
Ela registrou uma queda de 50% nos negócios sob as restrições da era Trump para os visitantes americanos, mesmo antes de a pandemia do coronavírus paralisar o turismo. “No dia em que Biden foi declarado o vencedor, colocamos um pouco de música e preparamos um pouco de bebida”, disse ela. “Estávamos todos comemorando.”
Empresários cubanos, frustrados com o ritmo das mudanças, dizem que Biden deve aproveitar a influência dos EUA para ajudar a formalizar os direitos dos donos de negócios. Autoridades cubanas avaliam um projeto de lei a ser apresentado no próximo ano.
“Sob Trump, nos vimos obrigados a adotar uma lei para pequenas e médias empresas, porque as coisas estavam muito ruins”, disse Oscar Casanella, de 45 anos, que dirige um serviço de táxi de carros clássicos em Havana. “Infelizmente, é apenas quando você vê a pressão externa que você vê a mudança interna.”
“Os cubanos querem visitar suas famílias, querem enviar remessas”, disse Guillermo Grenier, principal pesquisador do Cuba Poll, da Universidade da Flórida. “Os democratas precisam criar uma nova história para os cubano-americanos, que não seja sobre a Guerra Fria, mas que use a ideia de que a família pode ser o agente da mudança.” As informações são do jornal The New York Times.