Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 9 de outubro de 2018
A cúpula da campanha de Fernando Haddad (PT) ainda resiste a anunciar nomes para uma possível equipe econômica caso o petista vença o segundo turno das eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro (PSL). O pleito está marcado para o dia 28 de outubro, domingo.
Por outro lado, como mostrou a imprensa no domingo, o candidato está ciente de que é preciso ser portador de um discurso maior moderação frente ao mercado. E já escalou auxiliares de sua confiança para abrir diálogo com empresários e investidores há algumas semanas.
Dirigentes do partido argumentam que “o mercado não vai votar no PT” porque já foi seduzido pelas ideias liberais do economista Paulo Guedes, guru de Bolsonaro, e que a prioridade agora é falar “diretamente com o povo mais pobre”.
“Se o mercado escolheu Jair Bolsonaro como candidato, queremos que o povo escolha Haddad. O mercado vai escolher quem quer, mas vai ter que conviver com quem for eleito”, afirmou Jaques Wagner, novo coordenador e articulador político da campanha de Haddad.
“O candidato do mercado é o do PSL, mas vamos provar que o candidato do povo é Haddad e o mercado vai se curvar”, completou.
A tese é que será preciso confrontar medidas econômicas do governo Lula com propostas de Bolsonaro e mostrar que o capitão reformado votou por projetos considerados contra os trabalhadores e que seu eventual governo vai prejudicar a população mais carente.
Com essa retórica, os petistas pretendem recuperar o voto tradicionalmente lulista que migrou para Bolsonaro, inclusive na Região Nordeste – o candidato do PSL terminou o primeiro turno com 46% dos votos, contra 29% de Haddad.
Uma reportagem publicada nessa terça-feira pelo jornal “Folha de S.Paulo” revelou que o capitão reformado está reunindo apoio do setor privado para levar executivos para o seu governo, caso chegue ao Palácio do Planalto.
Entre os nomes estão Alexandre Bettamio, presidente-executivo para a América Latina do Bank of America, João Cox, presidente do conselho de administração da Tim e Sergio Eraldo de Salles Pinto, da Bozano Investimentos.
Os petistas dizem que a divulgação desses perfis é uma tática de Bolsonaro para se mostrar menos frágil. Na reta final do primeiro turno, o candidato do PSL precisou calibrar ou até mesmo desmentir diversas declarações de seus auxiliares, inclusive de Guedes, que sinalizou com a criação de um imposto nos moldes da CPMF.
Os aliados políticos de Haddad dizem que nomear pessoas antes de vencer a disputa pode parecer arrogância e que os ministeriáveis devem ser anunciados somente se o petista ganhar a eleição.
Já o grupo mais próximo ao candidato quer que ele seja portador de uma mensagem mais moderada –comprometida com a austeridade e o fim do déficit fiscal em quatro anos.
Tentar conquistar o apoio de parte do mercado e de setores mais amplos da sociedade, além dos partidos, na avaliação desses auxiliares, também é uma forma de Haddad tentar conter a onda de apoio Bolsonaro.
Autonomia
Segundo fontes internas do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes refratário à ideia de fazer acenos para o mercado já no primeiro turno, liberou Haddad para ter autonomia em sua campanha. O recado foi interpretado por esse grupo como senha para continuar a tocar as conversas, inclusive com integrantes do setor financeiro.
Eles querem mostrar que um eventual governo petista não será de radicalismo econômico e que o candidato está disposto a flexibilizar pontos polêmicos do programa de governo do PT – e incluir bandeiras de outros candidatos, como Ciro Gomes (PDT), como contrapartida para o fechamento de aliança com ex-adversários.