Por Redação O Sul | 1 de setembro de 2025
Quando Supriya McKenna decidiu colocar fim ao casamento, buscou a ajuda de um psicólogo. Médica de família em Berkshire, na Inglaterra, ela havia listado 126 comportamentos do marido. Enquanto lia a relação em voz alta, sua terapeuta — especialista em narcisismo — pegou um livro da estante: “Por que é sempre sobre você?”, da psicanalista Sandy Hotchkiss.
“Era como acender uma lâmpada atrás da outra”, disse McKenna. “Eu não sabia que aquilo tinha um nome.”
O narcisismo é um termo muito usado, mas frequentemente cercado de desinformação. Muitas pessoas apresentam traços narcisistas, como arrogância ou necessidade de atenção. Mas, no transtorno de personalidade narcisista, essas características são persistentes e intensas, afetando relacionamentos e a própria capacidade de levar a vida adiante.
“É um desafio enorme para quem convive com o transtorno”, afirma Elinor Greenberg, terapeuta de Nova York especializada no tema. “Mas também é difícil para familiares e parceiros lidarem com essas dinâmicas.”
Livros são um ponto de partida importante para compreender o narcisismo, especialmente para quem está em um relacionamento desse tipo, destaca Usha Tummala-Narra, psicóloga e professora do Boston College. A seguir, quatro obras essenciais recomendadas por psicólogos, pesquisadores e médicos:
– Repensando o Narcisismo, de Craig Malkin: “Todos os seres humanos têm algum grau de narcisismo”, explica Tummala-Narra. “Trata-se da necessidade de se sentir valorizado e entender o próprio valor.” Publicado em 2015, o livro apresenta o narcisismo como um continuum.
Malkin, psicólogo clínico, criou uma escala de dez pontos para ajudar o leitor a se localizar nesse espectro. No centro, está o “narcisismo saudável”, caracterizado por autoconfiança equilibrada com empatia e abertura a críticas. Nas extremidades, estão desde aqueles que veem a si mesmos de forma excessivamente negativa até os que apresentam narcisismo patológico, marcado por falta profunda de empatia e forte senso de superioridade.
“O livro é particularmente interessante porque mostra que todos precisamos nos sentir especiais”, diz Tummala-Narra, ressaltando a linguagem acessível da obra.
– Não é você, de Ramani Durvasula: No livro lançado em 2024, a psicóloga de Los Angeles analisa como pessoas com padrões narcisistas — muitas vezes originados em insegurança e dificuldade em lidar com críticas — adotam comportamentos prejudiciais, como gaslighting e invasão de limites pessoais.
Durvasula oferece ferramentas para que quem convive com essas pessoas possa recuperar a própria identidade, restabelecer limites e superar relações dolorosas. Ela reforça que esses padrões refletem conflitos internos e não necessariamente más intenções.
“É uma leitura muito útil para quem está nesses relacionamentos”, afirma Daksha Hirani, psicóloga em Londres. “O tom é direto, mas sem rancor.”
– Desarmando o Narcisista, de Wendy T. Behary: Publicado em 2008, o livro ajuda a entender que “não podemos mudar ou controlar os outros”, explica Erica Schwartzberg, psicoterapeuta em Nova York. “Só podemos controlar como reagimos.”
No caso de relacionamentos com narcisistas, isso significa ser claro, direto e estabelecer limites firmes, o que “dá menos espaço para manipulações”, observa Schwartzberg.
Behary, fundadora do Centro de Terapia Cognitiva de Nova Jersey, recomenda o uso do “confronto empático” — reconhecer os sentimentos do outro sem abrir mão de suas próprias fronteiras. Técnicas simples, como falar na primeira pessoa, ajudam a evitar que o narcisista reaja de forma defensiva.
– A Epidemia do Narcisismo, de Jean M. Twenge e W. Keith Campbell: Lançado em 2009, o livro analisa como a cultura moderna estimula traços narcisistas em crianças e adolescentes, segundo Tummala-Narra.
Os autores defendem que a valorização excessiva da autoestima infantil, incentivada desde os anos 1980 e ampliada pelas redes sociais, contribuiu para o mal-estar atual.
Mas, embora a sociedade esteja mais preocupada com a imagem pública, isso não significa necessariamente que haja mais casos de transtorno narcisista, pondera Anssi Perakyla, professor de sociologia da Universidade de Helsinque. Ele recomenda a leitura, mas sugere cautela: “Podemos nos expressar de forma mais dramática hoje, mas nossa psicologia não mudou de maneira fundamental.” As informações são do jornal The New York Times.
