Sexta-feira, 09 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 8 de maio de 2025
Ao menos 20 líderes estrangeiros aceitaram o convite de Vladimir Putin para participar, em 9 de maio, das celebrações em Moscou do aniversário de 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial.
Entre os nomes que desembarcaram na capital russa nos próximos dias estão o chinês Xi Jinping e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A chegada de Lula aconteceu na quarta-feira (7/5). O líder brasileiro posteriormente segue para Pequim, para uma visita de Estado à China e participação no IV Fórum China-CELAC entre 12 e 13 de maio.
O convite da Rússia para participar do chamado Dia da Vitória, celebrado todos os anos em diversas partes do país, também foi acolhido por outras lideranças de países do chamado Sul Global, como os chefes de Estado de Cuba, Sérvia, Eslováquia, Indonésia e das ex-repúblicas soviéticas.
Para especialistas em política externa russa, Putin usa a data comemorativa para incitar o patriotismo entre a população russa, ao mesmo tempo em que busca mostrar ao resto do mundo que não está isolado e vem fortalecendo sua posição como liderança alternativa ao Ocidente.
“Para a Rússia, nesse momento, é muito importante demonstrar que existem países que aderem à sua órbita de influência”, avalia Gulnaz Sharafutdinova, diretora do Instituto Rússia da King’s College London.
“E a orientação em relação ao Sul Global encaixa na narrativa do Kremlin de se posicionar como uma alternativa ao Ocidente imperialista”, completa.
Resgate de um ‘passado vitorioso’
O principal evento em torno do Dia da Vitória é o desfile militar na Praça Vermelha. Sob o governo de Vladimir Putin, a partir de 2008, a parada passou a ser anual e se tornou uma demonstração de força das tropas e equipamentos militares, além de uma chance de lembrar os sacrifícios da 2ª Guerra Mundial.
O resgate do passado, aliás, é uma parte central da data para o Kremlin, explica Sergey Radchenko, historiador e professor da Universidade Johns Hopkins.
“[O 9 de maio] é um feriado importante na Rússia e um momento simbólico para Putin”, diz. “Quase nada na história russa se compara à forma como a vitória na 2ª Guerra Mundial é vista no país.”
E segundo Radchenko, o momento é utilizado para canalizar o sentimento patriótico da população e difundir a imagem de uma Rússia vitoriosa e poderosa — algo que se tornou ainda mais importante para o governo desde o início da guerra contra a Ucrânia.
‘Coalizão com o Hemisfério Sul’
Mas, certamente, o maior objetivo do Kremlin com as visitas é fortalecer laços e se posicionar como um ator forte, relevante e bem conectado, diz Radchenko.
“Para Putin, ter alguém como Xi Jinping ao seu lado, durante o desfile, projeta uma imagem de aliança para o resto do mundo”, afirma o especialista, acrescentando ainda que a presença de países como o Brasil ainda passa a ideia de que o Sul Global está ao lado da Rússia.
Ao mesmo tempo, avalia Gulnaz Sharafutdinova, a presença das lideranças estrangeiras serve ao Kremlin como forma de dar mais legitimidade para sua política externa dos últimos anos.
“Especialmente desde a invasão (da Ucrânia), criou-se [na Rússia] a imagem de um Ocidente imperialista e colonialista e de uma Rússia que luta pelos direitos dos países menores de seguirem seu próprio caminho e construírem alianças alternativas”, diz.
E segundo a professora especializada em política russa, ter os presidentes de países como Brasil e Eslováquia ao lado de Putin, em Moscou, ajuda com essa mensagem “antiocidental”.
“De certa forma, isso sinaliza que existe uma coalizão com o Hemisfério Sul”, afirma.
Oportunidade de negociação?
O evento na capital russa ainda é visto como uma oportunidade para encontros bilaterais e negociações paralelas entre os líderes presentes.
O Kremlin já confirmou que Vladimir Putin deve se reunir de forma privada com alguns de seus convidados — e um encontro do líder russo com Lula é esperado, segundo a imprensa brasileira.
Para Sergey Radchenko, da Universidade Johns Hopkins, o encontro de maior atenção deve ser com o presidente chinês Xi Jinping.
Durante evento em Brasília na semana passada, Celso Amorim, assessor especial de assuntos internacionais da Presidência, disse que será uma espécie de “mensageiro da paz” durante sua viagem para a Rússia.
“O presidente Lula levará a mensagem de forte apoio às negociações de paz nas viagens que fará, em alguns dias, a Moscou e Pequim”, disse Amorim durante a abertura da reunião de assessores de Segurança Nacional dos Brics, no Itamaraty, na quarta-feira (30/4).
O chefe de Estado brasileiro já tentou se posicionar no passado como uma espécie de mediador para o conflito entre Rússia e Ucrânia.
Há cerca de um ano, Brasil e China apresentaram uma proposta conjunta de paz durante a reunião de cúpula dos Brics realizada em Kazan, na Rússia, em outubro do ano passado. As informações são do portal BBC.