Sexta-feira, 22 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 11 de janeiro de 2020
Quando o príncipe Harry e Meghan anunciaram esta semana que deixariam suas tarefas na realeza e passariam mais tempo na América do Norte, muitos residentes no Reino Unido pertencentes à minorias disseram que sentiram alívio. Muitos disseram em entrevista que, finalmente, o casal poderá escapar dos abusos, muitos deles raciais, direcionados a eles pela imprensa britânica, particularmente pelos tablóides sensacionalistas do país.
— Graças a Deus eles estão livres — diz Sanaa Edness, erguendo os braços para o céu enquanto caminhava por Fordham Park, no sudeste de Londres. — Ninguém deveria toleraro bullying e o comportamento abusivo por causa de sua cor de pele. Tudo isso é sobre a raça dela. Eu sei disso porque, como uma mulher caribenha que não cresceu aqui, já experimentei isso.
Mas a história não deveria terminar assim.
Quando um bispo afro-americano falou e um coral gospel cantou na cerimônia de casamento de Harry e Meghan no Castelo de Windsor, em maio de 2018, foi aberto um precedente para que as pessoas negras do Reino Unido, que até então se sentiam excluídas da cultura e das tradições profundamente brancas da monarquia britânica.
Jovens mulheres negras com nenhum interesse em particular na família real ficaram de frente para a TV com alegria enquanto a bela e birracial atriz americana caminhava pela capela de São Jorge e se tornava a duquesa de Sussex. Elas esperavam que a uniam de Meghan com o príncipe popular fosse marcar uma nova era para a família real, que fosse baseada em valores mais frescos e com os quais pudessem se relacionar.
Mas, mesmo antes do casamento, Meghan já estava sobre ataques frequentes dos tablóides, levando Harry a divulgar um comunicado condenando o “tom racial” dos artigos de opinião e das matérias vinculadas pelos tablóides.
A duquesa foi personagem de histórias racistas e sexistas com referências ao seu “DNA exótico” e descrições da história de sua família com frases como “de escravos das fazendas de algodão à realeza via a liberdade conquistada com a Guerra Civil americana”.
Com o casamento, Meghan entrou oficialmente para a família real, e os tabloides a apresentaram como a megera que grita com sua equipe e que fez Kate Middleton, a duquesa de Cambridge, chorar. Alguns títulos se referiam a Meghan como “o furacão Meghan” e a “a duquesa difícil”.
— Eles queriam mostrá-la como a mulher negra raivosa, como um espinho contrário à doce rosa da Inglaterra que é Kate — afirma Sanaa Edness.
Em uma rara entrevista à TV, para o canal ITV em outubro, a duquesa admitiu sua luta e dificuldades e que seus amigos a avisaram que, se ela se casasse com Harry, os tabloides britânicos “destruiriam sua vida”.
Os tabloides negam que sua cobertura tenha uma tendência racista, dizendo ter o direito de investigar o casal quando eles são mantidos por dinheiro público.
— A maior parte da mídia ignora por completo o fator racismo que claramente teve um papel grande na decisão do casal — diz Nadine Batchelor-Hunt, ex-presidente da campanha de pessoas negras e minorias étnicas na Universidade de Cambridge. — Fala-se mais sobre racismo nos Estados Unidos. As pessoas são mais conscientes dele, enquanto aqui, a comunidade negra é muito menor, não costuma ser tratada como um assunto significativo.
No último censo britânico, em 2011, residentes negros correspondiam a apenas 3% da população britânica, e os brancos a 87%, o restante correspondia a minorias étnicas. Nos Estados Unidos, pessoas brancas nã0-hispânicas eram 60,4% da população em 2019; os negros eram 13,4%.