Domingo, 14 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de setembro de 2025
Parece que todo influenciador de longevidade tem um suplemento (ou vários) em que jura de pés juntos.
Bryan Johnson, fundador do movimento “Don’t Die” (“Não Morra”), toma punhados de pílulas ao longo do dia — muitas das quais agora vende. Gary Brecka, apresentador do podcast “The Ultimate Human”, promove pós, comprimidos, bebidas, sprays nasais, adesivos para a pele e até injetáveis em seu site. E inúmeros perfis no Instagram e no TikTok garantem que nunca se sentiram ou pareceram melhor, graças aos seus suplementos favoritos (pelos quais muitas vezes são pagos para promover).
Mas será que algum desses feijões mágicos é legítimo?
Meia dúzia de médicos e cientistas entrevistados para esta matéria apontam não haver suplementos que tenham demonstrado prolongar a vida humana em um grande ensaio clínico. Por isso, alguns dizem que as evidências que apoiam o uso de suplementos para longevidade são muito fracas — e a indústria, pouco regulada — para justificar que as pessoas gastem dinheiro com eles.
— Esse amontoado de coisas vendidas e promovidas por influenciadores e supostos especialistas em longevidade, não há dados que sustentem — afirma Eric Topol, fundador do Scripps Research Translational Institute e autor de “Super Agers”.
Outros, no entanto, se mostram otimistas em relação ao potencial dos suplementos para melhorar a health span — o tempo de vida sem doenças graves — e dizem que os comprimidos e pós podem ter um papel no apoio à saúde das pessoas à medida que envelhecem.
— Vejo todo esse campo como uma oportunidade — diz Eric Verdin, presidente e diretor-executivo do Buck Institute for Research on Aging. — Mas também como algo repleto de perigos para os consumidores e de falsas promessas — completa.
Os suplementos promovidos para um envelhecimento saudável geralmente se dividem em duas categorias: as vitaminas tradicionais e os produtos mais experimentais. Veja cada um deles.
Vitaminas tradicionais
Vários especialistas dizem que a vitamina D, a vitamina B12 e os ômega-3 são os três nutrientes que tendem a recomendar para adultos mais velhos. Isso porque não é incomum haver deficiência deles, especialmente com o envelhecimento. Idosos podem ter dificuldade em absorver a vitamina B12, e certos medicamentos podem agravar o problema. Pessoas que vivem em regiões com pouco sol podem não receber vitamina D suficiente, e quem não consome peixe regularmente pode não estar obtendo ômega-3 em quantidade adequada.
Estudos observacionais sugerem que baixos níveis de vitamina D e ômega-3, em especial, parecem aumentar o risco de várias condições de saúde relacionadas ao envelhecimento, como doenças cardíacas, câncer e osteoporose. Essas descobertas incentivaram pesquisas para verificar se a suplementação poderia ajudar a prevenir essas doenças. No entanto, os resultados dos ensaios clínicos foram, em grande parte, decepcionantes.
Em dois dos estudos mais importantes — o ensaio VITAL (2018), nos Estados Unidos, e o DO-HEALTH (2020), na Europa —, milhares de idosos tomaram suplementos de vitamina D ou ômega-3 (ou ambos) por três a cinco anos. Considerando os participantes como um todo, nenhum dos dois mostrou benefícios em diagnósticos de câncer, saúde cardiovascular, fraturas ósseas ou cognição.
Os resultados foram um pouco mais promissores em um subgrupo de participantes possivelmente deficientes em ômega-3. Especificamente, aqueles que consumiam menos de 1,5 porções de peixe por semana tiveram redução de derrames e ataques cardíacos ao tomar o suplemento. Já não houve diferença nos resultados para os que tinham baixos níveis de vitamina D no início dos ensaios.
Em linha com essas descobertas, muitos médicos adotam uma abordagem mais cuidadosa ao orientar pacientes sobre vitaminas. Alison Moore, diretora do Stein Institute for Research on Aging e do Center for Healthy Aging da Universidade da Califórnia em San Diego, conta que ocasionalmente recomenda ômega-3, vitamina D e B12 para pacientes em que há indícios de deficiência.
— Mas, se eles têm uma dieta saudável, realmente não recomendo suplementos — ela acrescenta.
Análises de acompanhamento recentemente publicadas dos ensaios VITAL e DO-HEALTH adicionaram uma nova camada de intriga, sugerindo que os suplementos podem, potencialmente, impactar aspectos do próprio processo de envelhecimento. A vitamina D foi associada a um encurtamento mais lento dos telômeros, e os ômega-3 a um envelhecimento biológico mais lento.
Suplementos experimentais
A categoria experimental — e mais badalada — de suplementos de longevidade inclui substâncias como NAD+ (nicotinamida adenina dinucleotídeo), espermidina e urolitina A. Alguns pesquisadores acreditam que elas têm potencial para melhorar a health span e combater o declínio das funções orgânicas e musculares associado à idade.
Muitas dessas moléculas já são produzidas naturalmente pelo corpo para manter a saúde celular e, em teoria, poderiam trazer benefícios anti-envelhecimento se suas quantidades fossem aumentadas por suplementação. Por exemplo: o NAD+ tem papel essencial na produção de energia celular, e seus níveis caem com a idade. A espermidina parece estimular a autofagia, processo pelo qual o corpo recicla proteínas e partes de células danificadas; a autofagia também declina com o envelhecimento. Já a urolitina A é produzida por bactérias intestinais e acredita-se que melhore a saúde das mitocôndrias — a “usina” das células.