Sexta-feira, 31 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de outubro de 2025
 
				Assim como outros remédios da mesma classe, o omeprazol interfere na acidez do estômago e em diversas funções do organismo.
Foto: ReproduçãoDurante décadas, o omeprazol foi considerado um sinônimo de “protetor gástrico” e visto como inofensivo — um comprimido que muitas pessoas tomavam diariamente antes do café da manhã. No entanto, o entendimento médico sobre o medicamento mudou.
Assim como outros remédios da mesma classe, o omeprazol interfere na acidez do estômago e em diversas funções do organismo. “A tendência atual é evitar o uso desnecessário”, afirma a gastroenterologista Débora Poli, do Hospital Sírio-Libanês.
O que é
O omeprazol pertence à classe dos inibidores da bomba de prótons (IBPs) — medicamentos que reduzem a produção de ácido no estômago. Além dele, fazem parte desse grupo o pantoprazol, esomeprazol, lansoprazol e outros compostos semelhantes. Embora sejam eficazes, esses fármacos deixaram de ser vistos como soluções sem risco.
Quando foi lançado, o omeprazol representou um marco no tratamento de úlceras e refluxo. “Os IBPs revolucionaram o manejo de doenças gástricas, mas seu uso acabou banalizado. Com o tempo, o remédio saiu do consultório e entrou na rotina das pessoas. Muitos começaram e nunca mais interromperam, sem reavaliação — o que chamamos de inércia terapêutica”, explica o oncologista clínico Raphael Brandão, diretor da Clínica First.
O alerta não é novo, mas ganhou força com pesquisas recentes. Segundo a gastroenterologista Karoline Soares Garcia, da Clínica Sartor e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia, o uso prolongado do omeprazol pode reduzir a absorção de ferro, magnésio, cálcio e vitamina B12. A deficiência desses nutrientes pode causar anemia, fadiga, cãibras e osteopenia.
O uso contínuo também aumenta o risco de infecções intestinais por Clostridioides difficile, bactéria que provoca diarreia grave, além de favorecer o supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO). Estudos observacionais ainda apontam uma possível relação com doença renal crônica e fraturas.
Quando é indicado
Apesar das restrições, os especialistas ressaltam que o omeprazol continua sendo essencial em diversas situações. “Ele tem papel importante no tratamento do refluxo gastroesofágico, gastrite, úlceras e infecção por Helicobacter pylori. Ainda é uma medicação de baixo custo e grande utilidade”, destaca Poli.
Há casos em que o uso contínuo é necessário, como em pacientes com esôfago de Barrett, esofagite eosinofílica ou que necessitam de proteção gástrica durante o uso prolongado de anti-inflamatórios.
Novas opções
Nem todos os pacientes precisam manter o omeprazol por tempo indeterminado. Pessoas com sintomas leves ou refluxo intermitente podem adotar abordagens mais brandas. “Em quadros leves, é possível reduzir a dose, usar o remédio sob demanda ou substituir por bloqueadores H2, como a famotidina”, explica Brandão.
Esses bloqueadores agem nos receptores de histamina no estômago e, embora menos potentes, têm menos efeitos adversos a longo prazo.
Há também opções mais recentes, como os P-CABs (bloqueadores de potássio) — caso da vonoprazana, que tem ação rápida e duradoura. “Ela pode ser uma alternativa para pacientes que não respondem bem aos IBPs, mas ainda é cara e pouco disponível no Brasil”, acrescenta o oncologista.
A decisão de iniciar, substituir ou suspender o uso do omeprazol deve sempre ser feita com orientação médica. A automedicação e o uso prolongado sem acompanhamento podem trazer riscos que superam os benefícios.