Quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

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Colunistas Onze meses e dezembro

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Dezembro é composto por fragmentos de tempo, nos quais encaixamos datas comemorativas, celebrações, fins de ciclo, encontros e tradições. (Foto: Arte/O Sul)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O calendário divide o ano em doze meses. Na prática, porém, eu os percebo como onze meses mais dezembro — algo semelhante à forma como dizemos “Brasil: 26 Estados mais o Distrito Federal”. Mesmo sendo fevereiro que escapa à regra em contagem de dias, o último mês do ano é o que foge à lógica linear do tempo.

Dezembro é composto por fragmentos de tempo, nos quais encaixamos datas comemorativas, celebrações, fins de ciclo, encontros e tradições que se repetem ano após ano. O tempo é vivido menos por duração e mais por sucessivas marcações.

O mês ritualizado é amado por uns, não tanto por outros, mas, para a maioria de nós, se apresenta como uma dicotomia: nos comprime no tempo enquanto traz a doçura de um possível “novo amanhã”. De alta densidade simbólica, ele é capaz de concentrar sensações distintas em seus dias e semanas desalinhadas.

Mais do que produzir sentimentos novos, dezembro intensifica aqueles que já vinham sendo vividos ao longo do ano, ampliando sua presença no imaginário coletivo. Mesmo quem afirma não dar importância às datas acaba atravessado por esse movimento. A força simbólica do período — profundamente enraizada em nossa cultura — torna quase inevitável algum tipo de balanço, ainda que silencioso. Nesse contexto, as sensações variam: quem atravessou o ano com satisfação tende a encerrar dezembro em clima de celebração; quem chega ao fim do ano em ritmo mais lento percebe o período de forma mais densa; há quem viva o mês como suspensão, quem o atravesse com expectativa e quem o sinta apenas como um leve estranhamento. Em comum: quase ninguém sente uma coisa só.

Essa experiência não é só interna. Ela é externa, muito externa, visível na forma como a agenda se reorganiza de forma acrobática para acomodar compromissos, ritmos e expectativas que se multiplicam nesse período. Parte disso é passado para a próxima agenda — a do ano que vem — enquanto o que fica é, muitas vezes, vivido no improviso. E assim a vida social se intensifica. Ela exige energia extra, e, paradoxalmente, pode ser fonte de reabastecimento.
Talvez para compensar esse malabarismo todo, dezembro é admitido como um intervalo coletivo, no qual ideias, desejos e planos são mais esboço do que decisão, sem que haja real exigência de definição. Aqui, pelo bom senso, o inacabado acaba sendo tolerado e até aceitável. É um tempo em que seguir adiante, mesmo sem total clareza ou fechamento, passa a ser parte do processo.

Na prática, atravessar o mês é um teste de adaptação, que exige menos planejamento rigoroso e mais flexibilidade. Ele é vivido mais por acomodação ao ritmo imposto do que por condução plena das próprias escolhas.
Essa adaptação não acontece por acaso. Ela não é exatamente uma escolha consciente, mas um acordo silencioso, sustentado pela carga simbólica das datas e pela relevância que esses marcos acumulam ao longo da vida. Fins de ano organizam memórias, relações e expectativas, produzindo encerramentos, resoluções e celebrações. É, sobretudo, a esperança de recomeços — melhores e mais fortes — a verdadeira força propulsora que sustenta o ritmo do último mês do calendário.

Apesar da densidade de dezembro, resta a pergunta: como seria nossa experiência do tempo sem essa interrupção ritualizada, com todo o seu simbolismo? Sem a pausa, o balanço e a proximidade ou distância dos nossos, viveríamos de forma mais automática? Talvez esse momento de suspensão seja justamente o que nos impede de viver de forma indistinta dia após dia, ano após ano, sem marcos capazes de provocar mudanças e tornar a vida mais memorável.

Com esse pensamento, desejo aos leitores um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de bons recomeços.

  • Dana Badra

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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