Quinta-feira, 18 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 21 de fevereiro de 2019
Quando foi preso pela segunda vez no ano passado e passou 36 dias na penitenciária, alguns deles numa solitária por ter discutido com um agente, o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, fez circular a informação de que cogitava fazer delação para se livrar do que considerava um período longo demais dentro de uma cela.
Acusado pela Lava-Jato de ser operador financeiro do PSDB, ele, que foi preso novamente na terça (19), dizia ter uma informação bombástica para revelar: a de que a conta encontrada na Suíça com saldo de R$ 132 milhões, em valores atuais, não era só dele. Era o que ele chamava de “conta ônibus”, ou seja, de vários titulares, todos cardeais tucanos, como Aloysio Nunes Ferreira e José Serra, e do próprio PSDB.
A informação da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba de que Aloysio recebeu um cartão de crédito ligado à conta de Paulo Preto aponta, na visão de procuradores, que os recados do ex-diretor da Dersa podem não ser apenas ameaças. O recado tinha um tom óbvio de chantagem, com um subtexto que dizia “ou vocês me salvam ou entrego todo mundo”.
Após a pressão de Paulo Preto, ele trocou de advogado: saiu Daniel Bialski e entrou José Roberto Santoro, que também cuidava da defesa de Aloysio. Foi o novo advogado que conseguiu soltar Paulo Preto, com um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes, do Supremo. Não era a primeira vez que Paulo Preto mandava recados intimidatórios para a cúpula do PSDB.
Na campanha presidencial de 2010, quando ele se tornou uma figura central nos debates entre Dilma Rousseff e José Serra, Paulo Preto pronunciou aquela que se tornaria a sua frase mais famosa. “Não se abandona um líder ferido na beira da estrada”, afirmou logo depois de o então candidato tucano à Presidência ter dito num evento de campanha em Goiânia (GO) que não conhecia o ex-diretor da Dersa.
Serra ainda acusou a imprensa no episódio: “Eu não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês [jornalistas] fiquem perguntando”. O então candidato não concluiu a frase, mas aparentemente o que ele queria dizer era que a imprensa usava Paulo Preto para questioná-lo sobre corrupção durante a sua gestão.
Como não conhece?, dizia Paulo Preto, se o Serra estava comigo na inauguração do Rodoanel Sul? Foi nessa obra que o ex-diretor é acusado de ter formado o cartel de empreiteiras e cobrado propina para o partido e para Serra.
O Rodoanel Sul foi iniciado na administração de Serra no governo de São Paulo, em 2007.
Havia outro indício de que Serra conhecia bem Paulo Preto. Quem indicou o engenheiro para a diretoria de obras da Dersa, a que toca as obras mais caras, foi o principal aliado de Serra dentro do PSDB, o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira.
Aloysio ocupava a pasta mais importante durante a gestão de Serra no governo paulista: era o chefe da Casa Civil. Foi ele também, segundo políticos tucanos, quem indicara Paulo Preto para a diretoria de obras da Dersa, a empresa de obras viárias do governo paulista.
No governo anterior, de Geraldo Alckmin, Paulo Preto ocupava desde 2005 um diretoria sem importância, de relações institucionais. Quando a Lava-Jato começou a investigar Paulo Preto, Aloysio tentou se dissociar do seu antigo aliado.
Havia outros laços entre Aloysio e Paulo Preto. Em 2007, uma filha de Paulo Preto, a advogada Priscila de Souza, e a então mulher do então diretor da Dersa fizeram um empréstimo para Aloysio comprar um apartamento no bairro de Higienópolis, em São Paulo, conforme o jornal Folha de S.Paulo revelou em 2010.
A filha entrou com a maior parte do empréstimo: R$ 250 mil. À época, ela trabalhava para empreiteiras que tinham contratos com a Dersa, como a Camargo Corrêa. Aloysio disse que quitou o empréstimo em prestações, mas não houve pagamento de juros.