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Por Redação O Sul | 10 de agosto de 2017
A oposição venezuelana decidiu na quarta-feira (09) participar das eleições de governadores, em meio a acusações de fraude na Assembleia Constituinte do presidente Nicolás Maduro, que motivaram novas sanções dos Estados Unidos. A decisão foi tomada no último dia para a inscrição na disputa por 23 cargos executivos estaduais e assembleias regionais.
“Acordamos por consenso pré-inscrever candidatos para as eleições regionais”, afirmou em um comunicado a coalizão MUD (Mesa da Unidade Democrática), que viu vários de seus dirigentes inabilitados a se candidatar. A aliança explicou que a sua decisão tem a intenção de pressionar Maduro e o poder eleitoral para que cumpram com a palavra de realizar as eleições em 10 de dezembro. Se não o fizerem, “que paguem o preço”, assinalou o dirigente Andrés Velásquez, em coletiva.
Não foi uma decisão fácil para a MUD, que reúne cerca de 30 partidos com diferentes tendências políticas e que se juntaram em 2008 para enfrentar o chavismo, no poder desde 1999. “É uma forma de luta e não assumi-la é a melhor maneira de convalidar e fortalecer a ditadura”, justificou-se, advertindo que os protestos para exigir eleições gerais continuarão.
Os quatro meses de manifestações deixaram 125 mortos e, nas últimas semanas, notou-se uma diminuição na participação. As eleições regionais deveriam ter acontecido no fim de 2016, mas o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) as adiou sem motivos. Acusado de servir ao governo, o CNE também suspendeu em 2016 o trâmite para um referendo revogatório do mandato de Maduro, por ordem dos tribunais regionais.
Mais sanções
O anúncio da Mesa da Unidade Democrática coincidiu com as sanções do Departamento do Tesouro americano, na quarta-feira, ao irmão mais velho do presidente falecido Hugo Chávez e a outros sete políticos por sua relação com a polêmica Assembleia Constituinte, em vigor desde a última sexta-feira com poderes absolutos e que enfrenta um amplo repúdio internacional.
As sanções contra Adán Chávez e outros sete políticos chavistas implicam no congelamento dos bens que tenham nos Estados Unidos e na proibição a cidadãos americanos de fazer negócios com eles.
Washington já sancionou Maduro, 13 funcionários e ex-colaboradores do presidente, acusados de quebrar a democracia, corrupção e violação dos direitos humanos. A lista aumentou depois que 12 governos da América condenaram Maduro, na terça-feira em Lima (Peru), por uma “ruptura” da democracia e desconheceram a Constituinte, também rechaçada pela UE (União Europeia).
No sábado passado, o Mercosul suspendeu politicamente a Venezuela com o mesmo argumento. Diante da crescente pressão internacional, Maduro propôs uma cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) para “restituir o diálogo” regional e o “respeito à Venezuela”.
Dilemas
Analistas como Benigno Alarcón consideram que o governo não está em condições de vencer uma eleição por sua responsabilidade na grave crise econômica, refletida na escassez de alimentos e remédios e uma inflação que, segundo o FMI, ultrapassaria os 720% este ano.
Maduro enfrenta o repúdio de 80% dos venezuelanos, de acordo com as pesquisas, que indicam que a MUD pode ganhar até 18 governações. Seria um novo golpe ao chavismo, que encarou em 2015 a sua maior derrota ao perder nas legislativas.
Devido a isso, segundo Alarcón, Maduro apostou pela Constituinte como uma “salva-vidas”, não para reescrever a Carta Magna, mas evitar eleições e governar sem contrapesos como o Parlamento, que já estava com as mãos atadas pela Suprema Corte.
Dirigentes opositores não descartam que, ao final, a Constituinte, como um “suprapoder”, cancele as regionais. Mas Maduro assegura que está pronto para derrotar a MUD e comemorou nos últimos dias que alguns partidos tenham decidido se inscrever.
A oposição também encara o risco de perder o apoio popular, de acordo com analistas. Em seus protestos, exigem eleições gerais para retirar Maduro, mas estaria se conformando com as regionais. Já assumiu um custo em 2016: quando as manifestações contra Maduro alcançaram um novo pico, entrando em um frustrado diálogo que enfraqueceu a sua popularidade.
No entanto, a oposição assegura que o governo está encurralado pelos protestos e pela pressão internacional, e que cada vez está mais perto de seu objetivo de “acabar com esta ditadura”. (AG)