Sábado, 10 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 9 de maio de 2025
O esquema de fraudes no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) serviu de munição para políticos da oposição tentarem desgastar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e angariar apoio para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso. Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado com mais seguidores nas redes sociais, publicou vídeo com ataques a Lula, atingiu milhões de visualizações em poucas horas e foi endossado por aliados ao longo da quarta-feira (7). A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reagiu e acusou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de omissão diante dos descontos ilegais em benefícios de aposentados e pensionistas.
Nikolas repetiu o formato usado por ele no início do ano para explorar o “caso Pix” – que alcançou 200 milhões de visualizações em 24 horas. A postagem ajudou a ampliar o desgaste do governo, que não conseguiu reverter a onda de desinformação em torno da nova norma de fiscalização, que precisou ser revogada pelo Ministério da Fazenda para dar fim ao falso temor de taxação das transações.
No novo vídeo, publicado na noite de terça-feira (6), o deputado classifica a fraude no INSS como “o maior escândalo de corrupção do país”, tenta associar as fraudes a ações da esquerda e tenta afastar a relação da gestão Jair Bolsonaro com as suspeitas. Até às 21h15 de quarta-feira (7), a publicação teve 106 milhões de visualizações no Instagram.
Na postagem Nikolas também pede para os seguidores irem até as redes sociais dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e pressionarem pela instalação de uma CPI. Há requerimentos para instalação de comissões na Câmara e no Senado. A oposição tenta angariar apoio para uma comissão mista, que precisa da assinatura de no mínimo 27 senadores e 171 deputados.
Até a tarde de quarta-feira, o vídeo tinha mais de 87 milhões de visualizações. O conteúdo produzido por Nikolas foi compartilhado por diversos opositores, entre eles Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Os detalhes da investigação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre fraudes em descontos nas folhas de pagamento vieram à tona no fim de abril, com a Operação Sem Desconto. A PF estima que, entre 2019 e 2024, o esquema teria desviado R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas.
No vídeo, o deputado faz um resumo sobre a investigação em curso e exibe reproduções de reportagens recentes sobre o assunto. Nikolas, no entanto, distorce algumas informações e mistura números diferentes ao citar supostos valores relacionados ao esquema fraudulento.
Em um trecho, ele cita que os desvios chegaram a R$ 90 bilhões. Mas esse valor diz respeito ao total de empréstimos consignados liberados a segurados em 2023, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). Essa modalidade de crédito é um dos focos de suspeitas dos órgãos de controle.
O parlamentar afirma, em outro momento, que inicialmente o rombo identificado foi de R$ 6 bilhões. Nesse caso, ele faz referência a outra frente de investigação, focada nos chamados descontos associativos, cobrados por sindicatos dos segurados e que teriam desviado os R$ 6,3 bilhões estimados pela PF. O valor exato desviado ainda não foi divulgado pelos investigadores nem pelo INSS.
A repercussão do esquema de descontos ilegais nas folhas de pagamento já levou às demissões do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do então ministro da Previdência, Carlos Lupi. Eles negam a prática de irregularidades e dizem ter atuado para evitar os descontos indevidos.
O governo Lula teme sofrer desgaste político com o escândalo do INSS, num momento em que tenta reverter a queda de popularidade identificada por diversas pesquisas de opinião.
Na tarde de quarta-feira, sem fazer menção a Nikolas Ferreira, a ministra Gleisi Hoffmann também recorreu às suas redes para reagir à oposição. Em um extenso texto em seu perfil no X, a ministra rebate parte das afirmações feitas pelo deputado, como a de que o ex-presidente Jair Bolsonaro editou medida provisória para combater fraudes no INSS em 2019, mas depois “foi derrubada pela esquerda”.
“A medida provisória que cancelou de vez a exigência de autorização individual e verificada para os descontos foi aprovada no Congresso e sancionada por Bolsonaro em 2022. Não foi uma ‘coisa da esquerda’, como estão mentindo agora”, afirmou Gleisi. A ministra afirma ainda que “apenas no governo Lula” a PF e a CGU enfrentaram as “quadrilhas as entregaram à Justiça”.
A MP mencionada por Nikolas e Gleisi criava, em 2019, regras mais rígidas para os descontos em folha. A versão aprovada pelo Congresso, no entanto, adiou o início dessas condições.
Após a operação da PF e da CGU, a base aliada do governo explora a informação de que o esquema começou no governo Bolsonaro, mas a investigação não deixa claro quando de fato as fraudes tiveram início. A CGU, em relatório publicado nessa terça-feira (6), afirma que há registros de descontos indevidos desde 2016.
Em sua publicação, Gleisi não afirma expressamente que o esquema começou com Bolsonaro, mas diz que na gestão dele “quadrilhas criaram entidades fantasmas para roubar os aposentados”.
Na terça (6), a oposição adiou o protocolo do requerimento de instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para a apuração das fraudes no INSS. O receio das articuladoras, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e a deputada Coronel Fernanda (PL-MT), era de perder o mínimo de senadores necessários para a abertura do colegiado. As informações são do jornal Valor Econômico.