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Por Redação O Sul | 17 de novembro de 2019
A queda do ex-presidente da Bolívia Evo Morales no último fim de semana adicionou mais uma na extensa lista de presidentes sul-americanos que, por razões políticas, não terminaram o mandato. Nos últimos cem anos, um presidente a cada 10 meses não conseguiu terminar o mandato.
Entre 1919 e os dias de hoje, 114 presidentes no continente tiveram de abandonar seus cargos. Esse número leva em conta apenas os governantes que deixaram o cargo por motivações políticas, ou seja, políticos que morreram por causas naturais ou acidentes, por exemplo, não estão incluídos.
O levantamento considerou os 12 países da América do Sul: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Equador, Peru, Guiana e Suriname. O número demonstra, entre outros fatores, a dificuldade dos países da região em alcançar a estabilidade política necessária para o desenvolvimento econômico.
Bolívia e Chile
Evo Morales e Sebastian Piñera têm pouco em comum. O primeiro, mandatário da Bolívia até o último fim de semana, é um político esquerdista, de origem indígena, ex-agricultor de coca. O segundo, atual presidente do Chile, é um empresário branco milionário e de centro direita.
Ambos enfrentaram nas últimas semanas massivas manifestações populares em seus países, com um saldo sangrento de mortos e centenas de feridos, além de destruição urbana. No último domingo, enquanto Evo renunciava ao posto, Piñera chamava uma constituinte para tentar deter a instabilidade social.
É certo que, tanto em um caso, como no outro, há elementos muito particulares que explicam a crise enfrentada pelos países.
No caso boliviano, ignorando um referendo popular que o vedava de concorrer a um quarto mandato, Evo não apenas saiu candidato, como se sagrou vencedor em primeiro turno – em eleições que a Organização dos Estados Americanos (OEA) afirma terem sido fraudadas e que estão agora anuladas.
No caso chileno, apesar das manifestações populares terem tido como ponto de ignição o anúncio de um aumento do preço das passagens de metrô, foi a baixa rede de proteção social pública, que tem levado aposentados à miséria, que forneceu o combustível ao levante social.
Mas existem elementos comuns não apenas na situação de Chile e Bolívia, mas no cenário da América Latina, que tem contribuído para a ida dos cidadãos às ruas.
Chile por reformas sociais
São aspectos que ajudam a explicar também os gigantes protestos contra o presidente do Equador, Lenín Moreno, que o levaram a transferir a capital do país de Quito para Guayaquil há cerca de um mês, o fechamento do Congresso peruano pelo presidente Martín Vizcarra há um mês e meio e o mau resultado eleitoral para os governos incumbentes tanto na Argentina, em que o centro direitista Maurício Macri será substituído pelo peronista Alberto Fernández, e Uruguai, onde o segundo turno aponta para a derrota do candidato da frente de esquerda do presidente Tabaré Vasquez.