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Por Redação O Sul | 26 de julho de 2020
 
				A pandemia do coronavírus só poderá ser controlada com o surgimento de uma vacina. É o que repetem constantemente especialistas da área médica, como membros da Organização Mundial da Saúde (OMS). Devido a esse cenário preocupante, o mundo acompanha ansiosamente a corrida científica em busca de uma imunização segura e capaz de frear o novo coronavírus. Nos projetos mais adiantados, há o trabalho de brasileiros, que têm atuado tanto no desenvolvimento de fórmulas quanto na realização de testes em voluntários. Alguns desses pesquisadores contam ao Correio detalhes importantes desses projetos e explicam por que o Brasil virou um laboratório para esses estudos.
Uma das vacinas que estão mais adiantadas é feita por cientistas chineses, do grupo farmacêutico Sinovac Biotech. A fórmula é desenvolvida por meio de uma tecnologia clássica para imunizantes: o uso do vírus inativado. Chamada de CoronaVac, a vacina contém cópias do patógeno Sars-CoV-2 que foram silenciadas em laboratório. Ao entrar em contato com o organismo da pessoa imunizada, provoca o desenvolvimento de células de defesa (reposta imune), o que deixa o indivíduo preparado para, quando exposto ao vírus, se defender.
Os testes clínicos iniciais (fases 1 e 2) da vacina chinesa foram concluídos, quando mais de 700 voluntários receberam a fórmula. Os resultados positivos foram suficientes para a equipe passar para a fase 3, que teve início, na semana passada, no Brasil. A última etapa, que é a mais importante de todo o processo, é feita em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. “Daremos continuidade a essa corrida pela vacina. Eles nos passaram o bastão. Agora, usaremos nossa estrutura para avaliar a segurança e a eficácia da CoronaVac, ou seja, se ela produz os anticorpos de defesa, em um grupo mais amplo”, detalha Ricardo Palacios, diretor médico de Pesquisa Clínica no Instituto Butantan.
O especialista explica que as atividades do instituto são feitas obedecendo a normas e métodos já dominados pelos cientistas. “Seguimos um protocolo com normas internacionais, mas, principalmente, brasileiras, que é muito bem definido e que conhecemos muito bem. Outro ponto importante é que a tecnologia usada para o desenvolvimento dessa fórmula é algo que temos domínio dentro do nosso instituto. Essa é uma grande vantagem para os testes e também para uma possível produção da fórmula”, avalia.
Palacios destaca que o Brasil tem posição privilegiada quando o tema é pesquisa, o que contribuiu para que a parceria se concretizasse. “Temos grandes instituições, como a Anvisa, que é comparada a outros grandes centros de fiscalização e regulação de medicamentos, como FDA, dos Estados Unidos. Isso, com certeza, contribui para o desenvolvimento de projetos e também para resultados mais rápidos e com garantia de segurança”, afirma.
O pesquisador acredita que outras parcerias poderão surgir. “Nenhum país aposta em uma fórmula só, até porque sabemos que precisaremos de vacinas para grupos específicos. Fora que precisamos ter mais de uma opção para garantir que todos possam ser imunizados caso ocorra problemas no percurso. Acredito que poderemos esperar que outros países sigam o mesmo caminho do Brasil, abrindo as portas para essas pesquisas de imunizantes”, justifica. A terceira etapa de testagem da CoronaVac no país contará com a participação de 9 mil voluntários, que receberão duas doses, aplicadas em um intervalo de 15 dias.