Quarta-feira, 15 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2017
Quinze anos após derrubar a resistência do mercado financeiro a Lula com a “Carta ao Povo Brasileiro”, o ex-ministro Antonio Palocci quebrou a lei do silêncio que os militantes históricos do PT se impõem e disparou, na última quarta-feira, o mais duro ataque ao ex-presidente na Operação Lava-Jato. Na avaliação de petistas, dois fatores foram fundamentais para que o médico sanitarista de 56 anos, preso desde setembro do ano passado, resolvesse abrir fogo contra o partido: a pressão da família e o vultuoso patrimônio acumulado na última década.
Ao longo de quase 40 anos na política, Palocci cumpriu as três etapas da militância partidária: lutou contra a ditadura no movimento estudantil, foi duas vezes prefeito de Ribeirão Preto (SP), uma das principais cidades administradas pelo PT no período pré-Planalto, e ocupou postos-chave nos governos Lula e Dilma. Considerado um estrategista brilhante, com capacidade única de ler a conjuntura política, o ex-ministro não poupou os colegas de legenda para buscar o objetivo que vem perseguindo nos últimos cinco meses: fechar um acordo de delação premiada e sair da cadeia.
Em abril, quando contratou um advogado especialista em colaboração com a Justiça, um dirigente do PT apostava que o movimento era apenas um blefe de Palocci para fazer com que instituições financeiras, que poderiam temer uma delação sua, pressionassem o STF (Supremo Tribunal Federal) a lhe conceder um habeas corpus. Ao verem que não era uma artimanha, petistas foram contaminados por perplexidade e medo.
A pressão familiar que levou Palocci a buscar esse caminho tem origem em um episódio ocorrido em 2006, quando ele foi acusado de frequentar uma casa usada por lobistas no Lago Sul, em Brasília. A mulher do então ministro da Fazenda, Margareth, se irritou com a exposição do caso, principalmente devido a relatos de que o local abrigava festas com garotas de programa. Esse histórico levou
Palocci a se ver obrigado a ceder aos apelos da mulher por uma delação. A situação familiar se agravou no meio do ano, após o Ministério Público Federal passar a investigar suspeita de lavagem de dinheiro na compra de dois imóveis adquiridos com dinheiro doado pelo ex-ministro, por sua filha e sua enteada.
Ex-companheira de Palocci na organização estudantil trotskista Liberdade e Luta (Libelu), Margareth trabalhou como assessora da presidência da Fundação Nacional de Saúde no primeiro governo do PT. Depois do escândalo, saiu da política e chegou a ser sócia na Projeto, empresa de consultoria que permitiu a Palocci mudar o seu padrão de vida.
“Para ser delator, tem que ter dinheiro. Quem vai dar emprego para uma pessoa em que não pode confiar? Palocci não precisa mais trabalhar”, diz um dirigente petista, que conhece o ex-ministro desde o movimento estudantil
Segundo relatório da Receita Federal obtido pela Lava-Jato, o ex-ministro recebeu 11,7 milhões de reais da Projeto entre 2005 e 2015. Além disso, o apartamento de 500 metros quadrados, quatro suítes e cinco vagas de garagem em que ele mora nos Jardins, em São Paulo, está em nome da empresa. (O Globo)