Sexta-feira, 26 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de dezembro de 2019
Vamberto Luiz de Castro, que ficou conhecido no Brasil inteiro por ter curado um linfoma agressivo através de um tratamento experimental e inédito na América Latina no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), vinculado à Universidade de São Paulo (USP), morreu na semana passada, em Belo Horizonte, vítima de um acidente doméstico. Ele tinha 64 anos. A informação foi divulgada pelo portal “G1”.
Durante o incidente, que ocorreu no último dia 11 e não foi detalhado pela família, provocou um traumatismo craniano grave, ainda segundo o site. Castro foi enterrado no Cemitério Parque Renascer, em Contagem (MG), e parentes e familiares realizaram uma missa de sétimo dia na última terça-feira.
Como mostrou o jornal O Globo em outubro, Castro, funcionário público aposentado, não respondia bem à quimioterapia e à radioterapia ao ser apresentado à terapia de células CAR-T, ainda em testes. Submetido ao tratamento, cujo custo na rede privada ultrapassa US$ 1 milhão (cerca de R$ 4 milhões), quando somados custo do material terapêutico (acima de R$ 1,6 milhão) e da expertise médica necessária, foi diagnosticada a remissão do câncer.
Seu caso virou fonte de inspiração e expectativas para pessoas com câncer em todo o Brasil. O tratamento que usa o sistema imune, a linha de defesa do corpo humano, para atacar o câncer, é tido como promissor, mas foi desenvolvido para um subtipo específico de linfoma (câncer do sangue), o não-Hodgkin.
A terapia é feita por meio da avaliação das características moleculares do câncer a ser combatido, extração dos linfócitos-T do paciente (células de reconhecimento do sistema imune) e alteração do DNA dessas células para que identifiquem o tumor adequadamente e o ataquem.
Terapia
A notícia de que uma terapia celular experimental conseguiu fazer regredir um linfoma contra o qual o mineiro Vamberto Luiz de Castro, de 62 anos, lutava há mais de dois anos, gerou uma onda de esperança em quem sofre com câncer.
Desde a divulgação do caso, há seis dias, a caixa de e-mail do hematologista Dimas Tadeu Costa — coordenador do Centro de Terapia Celular do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e um dos responsáveis pelo estudo — recebeu mais de 100 mensagens de pacientes desejando receber o “tratamento”. A terapia personalizada, feita a partir de células de defesa do próprio paciente, ainda está na fase de teste, ou seja, não pode ser considerada um tratamento.
Isso significa que o procedimento médico ainda não é ofertado em larga escala, sendo, também, exclusivo do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
— É uma pesquisa dentro de um hospital público (vinculado à USP), em um laboratório pequeno. O laboratório é sofisticado, complexo, com as devidas autorizações para desenvolver o teste, mas não é uma fábrica. Desenvolvemos a terapia, mas não temos capacidade para aplicar em alta escala. A cada 40 dias, conseguimos desenvolver uma terapia personalizada, mesmo com todos trabalhando em função disso — explica Costa.
Há também uma limitação em relação ao tipo de câncer . O teste do HC de Ribeirão Preto foi desenvolvido apenas para uma subtipo específico de linfoma (câncer do sangue), o não-Hodgkin.
Os demais tipos da doença, como o câncer de mama, estômago, pulmão, etc., não têm nenhuma relação com a terapia.
Na seleção para escolher quem receberia as células modificadas, os cientistas privilegiaram pacientes que não tinham mais nenhuma alternativa de tratamento . Era o caso de Vamberto, que já tinha sido submetido a quatro tipos de tratamento, sem sucesso.
— É um uso experimental para situações extremas. Assim como o Vamberto, os outros três pacientes que estão no estudo não têm outras opções terapêuticas, não responderam aos tratamentos habituais — esclarece o hematologista.