Sábado, 01 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 25 de fevereiro de 2019
A paisagista Elaine Perez Caparroz, de 55 anos, não quer mais voltar a morar no apartamento da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde foi espancada por quatro horas pelo estudante de direito e lutador de jiu-jitsu Vinícius Batista Serra, de 27 anos. Ela contou que pretende sair do local para evitar lembranças da tentativa de feminicídio que sofreu, no último dia 16.
“Minha intenção é a de não permanecer morando lá. É um excelente apartamento e tem boa localização, mas vai trazer lembranças ruins pra mim. Fiquei traumatizada com o que aconteceu. Durante os sete dias que fiquei internada, me recuperando dos ferimentos, acordei várias vezes gritando ao lembrar do que havia acontecido no apartamento”, disse a paisagista.
Elaine Caparroz prestou depoimento, nesta segunda-feira, na 16ª DP (Barra da Tijuca). Ela foi relatar o seu caso para a delegada Adriana Belém, que investiga o caso, incluindo detalhes da tentativa de homicídio que sofreu, quando foi agredida pelo lutador com socos, chutes e até com um golpe de mata-leão.
A agressão ocorreu num encontro no apartamento, que foi marcado pela paisagista e pelo estudante, após os dois conversarem por oito meses em uma rede social. Entre outros ferimentos causados pelas agressões, a paisagista sofreu descolamento de retina, perdeu um dente, levou 60 pontos na boca, e ainda está com marcas provocadas por mordidas nos braços e hematomas nas pernas.
No domingo, em entrevista ao jornal Extra, Elaine disse que acreditava ter sido dopada após tomar vinho na sala do apartamento e que não se lembra de como foi levada até o quarto, onde acordou já sendo esmurrada por Vinícius, que luta jiu-jítsu.
“Estava com ele na sala. Brindamos com vinho, e estava tudo ótimo. Em determinado momento da conversa, comecei a perder os sentidos. Era como seu estivesse num plano real do nosso encontro, e esse plano real tivesse se transformado em sonho. De repente, mudou a dimensão da realidade para mim. Eu perdi a noção, era como se eu estivesse delirando. Ainda me lembro dele já, no quarto, sem camisa, com o braço aberto dizendo para eu deitar no braço dele para dormimos juntos. Eu disse ‘ok’ e perdi os sentidos. Quando acordei, já no quarto, estava sendo esmurrada por ele. Acho com 99,9% de certeza que fui dopada por ele. Eu não tinha bebido tanto assim para acontecer isso”, disse ela.
Segundo Elaine Caparroz, Vinícius fez questão de preparar a tábua de queijos e de servir o vinho. A garrafa havia sido aberta por ela mesmo, pouco antes. A paisagista também comprara os queijos para serem servidos no encontro, marcado após oito meses de muitas trocas de mensagens numa rede social.
A paisagista disse que o lutador a confundiu ao dar um nome falso na recepção do edifício onde ela mora. Ela acredita que Vinícius tenha se aproximado com alguma má intenção, embora ainda não saiba o que poderia ter motivado tanta brutalidade.
Para a Polícia Civil, o fato de Vinícius ter fornecido outro nome é um indício que o agressor premeditou o crime. Autuado por tentativa de feminicídio, ele foi transferido na última quarta-feira para hospital psiquiátrico do sistema penal, onde está fazendo exames de sanidade mental.
A paisagista também contou que Vinícius insistiu para encontrá- la no apartamento, após saber que ela morava sozinha. Antes, eles já haviam marcado outros encontros que acabaram sendo cancelados. Ela disse que os dois se beijaram durante o encontro, mas que não houve relação sexual.
Elaine Caparroz disse que pedirá à polícia para não voltar a encontrar Vinícius, mas afirmou que vai lutar por Justiça até o fim:
“Não quero ter que vê-lo novamente. Neste período em que fiquei internada, tive pesadelos com ele, e, por mais de uma vez, acordei gritando. Vou até ao fim nesta história. Quero Justiça por mim e por todas as mulheres que sofrem agressões no mundo. Não sei por que ele fez isso comigo.”
Elaine Caparroz é mãe do lutador de jiu-jítsu Rayron Gracie, fruto de um relacionamento dela com Rayan Gracie. Ela disse que conseguiu resistir por tanto ao espancamento porque lutou com o agressor.
“Não cheguei a apreender jiu-jítsu, mas observei algumas lutas. Acho que isso me ajudou a resistir tanto tempo. Além disto, uma vizinha que é enfermeira foi uma das primeiras pessoas que me deram ajuda. Ela entrou no apartamento, após o Vinícius ser preso. Me colocou sentada e evitou que eu me sufocasse com o meu próprio sangue. Ajudou a salvar a minha vida junto com os médicos que me atenderam depois”, disse.
A paisagista calcula que precisará de quatro meses para retomar sua vida profissional. E afirmou que, a partir de agora, terá mais cuidado ao se relacionar nas redes sociais:
“Jamais me encontrarei com uma pessoa com quem me relaciono numa rede social sem que ela tenha sido apresentada por alguém.”