Sexta-feira, 31 de outubro de 2025
Por Gisele Flores | 30 de outubro de 2025
 
				“Não há soberania com 90% de fertilizantes importados”, alerta Paparico Bacchi ao defender plano estadual como resposta à crise econômica no RS.
Foto: DivulgaçãoDurante audiência pública na Farsul, deputado apresenta projeto de lei que pode transformar o Rio Grande do Sul em referência nacional na produção de fertilizantes. Evento reuniu lideranças políticas, setor produtivo e especialistas como o senador Laércio Oliveira e o pesquisador José Carlos Polidoro, do MAPA.
Em meio à grave crise econômica e climática que afeta o Rio Grande do Sul, o deputado estadual Paparico Bacchi (PL) apresentou, em audiência pública realizada na sede da Farsul, o Projeto de Lei nº 166/2025, que institui o Plano Estadual de Fertilizantes e Insumos para a Nutrição de Plantas. A proposta busca reduzir a dependência externa de insumos agrícolas e fortalecer a soberania nacional por meio da produção local de fertilizantes.
“Estamos muito preocupados com a economia do nosso estado e com a soberania do Brasil. Não há como sermos soberanos se importamos 90% dos fertilizantes que usamos. O Brasil é o único país do mundo que vive da agricultura e não produz seus próprios insumos”, afirmou Bacchi em entrevista exclusiva ao Jornal O Sul.
O projeto recebeu parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa e deve ser votado em plenário ainda este ano. A audiência pública, promovida pela Frente Parlamentar da Mineração, presidida por Bacchi, contou com a presença do senador Laércio Oliveira, autor do projeto federal PROFERTE, e do pesquisador José Carlos Polidoro, representante do Ministério da Agricultura (MAPA).
Durante o evento, Bacchi destacou o potencial do Rio Grande do Sul para liderar a produção nacional de fertilizantes a partir do carvão mineral. O estado concentra 87% das reservas brasileiras desse recurso, cuja riqueza, segundo o deputado, supera a do pré-sal. “Estive na China em agosto e conheci uma tecnologia da empresa JNG que transforma carvão em gás a 700°C, permitindo a produção de ureia e sulfato de amônio com liberação de oxigênio puro e captura de CO₂. É uma solução limpa, eficiente e viável”, explicou.
A missão internacional contou com representantes da AMBAR, braço dos irmãos Batista, donos da usina Presidente Médici em Candiota. “Eles assinaram um protocolo de intenções para trazer essa tecnologia ao RS. A ideia é instalar os equipamentos na própria usina, aproveitando o carvão já utilizado para geração de energia elétrica”, revelou Bacchi.
O deputado também criticou a alta carga tributária sobre a importação de tecnologias industriais, que pode chegar a 45% somando taxas e tributos internos. “Precisamos zerar essas alíquotas. O custo da tecnologia é alto, mas o que inviabiliza mesmo são os impostos. O projeto estadual já ajuda muito nesse sentido”, disse.
Segundo Bacchi, o plano estadual é estruturante e pode atrair investimentos mesmo antes da tramitação federal avançar. “Se o projeto nacional demorar, o estadual já cria condições para que o Rio Grande do Sul saia na frente. Temos qualidade técnica, reservas e vontade política. Precisamos apenas das ferramentas legais para viabilizar essa transformação.”
Ao final da audiência, o parlamentar fez um apelo à sociedade gaúcha e às lideranças políticas. “Estamos vivendo uma crise sem precedentes. Salas comerciais fechadas, produtores sem recursos para abastecer suas máquinas, queda na área plantada. O alto custo dos fertilizantes é um câncer que corrói nossa economia. Mas toda crise também é uma oportunidade. E esta é a nossa chance de virar o jogo.”
A proposta segue em tramitação na Assembleia Legislativa e, se aprovada, poderá posicionar o Rio Grande do Sul como referência nacional em inovação, sustentabilidade e autonomia na produção de fertilizantes. (por Gisele Flores)