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Por Redação O Sul | 25 de outubro de 2018
As propostas para economia dos dois candidatos à Presidência da República que disputam o segundo turno das eleições, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), são bem diferentes em diversos pontos, mas igualmente vagas e com pouco detalhamento sobre os principais temas. Segundo economistas ouvidos pelo portal G1, falta de clareza nos programas e há uma série de fragilidades, contradições e dúvidas sobre a viabilidade das propostas apresentadas.
Entre os temas mais urgentes que terão de ser enfrentados pelo próximo governo e que não foram detalhados mais a fundo pelos candidatos e suas equipes está o desequilíbrio das contas públicas, que deverão registrar no ano que vem seu 5º déficit anual consecutivo. O rombo em 2019 está projetado em R$ 139 bilhões.
Pouco foi explicado também sobre o que de fato poderá mudar na Previdência, nos impostos, nas estatais e nas concessões públicas. Foram apresentados apenas aspectos gerais e nenhum dos candidatos, nem suas equipes, deixou claro como a conta irá fechar, e o que será feito de fato para controlar os gastos públicos e garantir a retomada do crescimento econômico.
Há dúvidas também se Bolsonaro e Haddad vão conseguir formar maioria no Congresso diante da elevada fragmentação e, dessa forma, aprovar os projetos econômicos necessários.
Ao longo da disputa eleitoral, a campanha de Bolsonaro procurou adotar um discurso mais liberal para a economia (menor intervenção do Estado), enquanto a de Haddad usou um tom mais desenvolvimentista (maior intervenção do Estado).
Contas públicas
Para os economistas, a despeito das diferenças ideológicas das candidaturas, nenhuma das propostas detalha com clareza o que será feito para reequilibras as contas públicas.
O programa de Bolsonaro fala em privatizações, cortes e desvinculação de gastos. Por outro lado, o candidato e Paulo Guedes, seu principal assessor da área, também têm mencionado cortes de impostos. O programa de Haddad fala em revisão das desonerações, combate a privilégios, fim do teto de gastos e aumento de arrecadação via crescimento econômico.
“São caminhos diferentes, mas terminam no mesmo lugar. A grande verdade é que não se discutiu nada a sério nesta eleição. Nem no primeiro, muito menos no segundo turno”, afirma o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman.
Os economistas criticam a proposta do PT de defender um acerto das contas públicas via crescimento econômico, o que poderia trazer mais arrecadação para o governo. “Precisa combinar com os russos”, diz a economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro.
“Tem um baita desequilíbrio fiscal, tem um nível de gasto elevadíssimo e o programa do PT fala em tirar o teto de gasto. Se tem uma coisa que está segurando isso daqui hoje é o teto de gastos”, acrescenta Schwartsman.
A promessa de Bolsonaro de zerar o déficit primário já no primeiro ano de governo também soa como pouco crível para os economistas. “Não dá nem para encontrar lógica, porque não dá para cortar despesa [em 2019]. Teria que dar um choque de imposto fabuloso que iria jogar a economia numa recessão”, afirma o economista-chefe do banco Fator.
Previdência
Com relação às mudanças para a Previdência Social, o programa de Bolsonaro fala em introduzir o regime de capitalização como alternativa ao modelo atual. Defende também aumentar a idade mínima de aposentadoria para o serviço público, mas com tratamento diferenciado para categorias como militares. Já o programa de Haddad propõe uma convergência entre o regime geral e o de servidores públicos. E defende tirar o trabalhador rural da discussão sobre a mudança da idade mínima para se aposentar.
“Um ponto comum é que ninguém mais esconde a necessidade de uma reforma. Mas as duas candidaturas são muito vagas”, afirma a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. “O Haddad fala em acabar com os privilégios, mas hoje só pobre se aposenta por idade mínima. O resto aposenta por tempo de contribuição. Do lado do Bolsonaro, também não está clara qual é a proposta. ”
Privatizações
No tema privatizações, Haddad fala em suspender a política de venda de “empresas estratégicas”. No caso de Bolsonaro, embora seu assessor econômico tenha se declarado a favor de “todas” as estatais, o candidato disse que o setor de geração de energia elétrica será exceção, assim como o “miolo” da Petrobras.
“O diabo mora sempre nos detalhes. E não tem os detalhes. Quer dizer, ele diz que é a favor da privatização, mas nada do que seja estratégico. Então, não se está falando de Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal. Pode até ter 140 estatais, mas o que interessa são essas 5. O resto é miudeza”, afirma Schwartsman.