Segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de outubro de 2025
A reunião entre o presidente do Brasil, Lula, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Malásia, neste domingo (26) pode ser frutífera, apesar de ainda não ser possível falar em vitória, afirmou Vitélio Brustolin, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Fluminense, em entrevista à Globonews (veja no vídeo acima).
O encontro entre os dois presidentes durou 45 minutos e foi o primeiro desde uma rápida conversa durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro.
Lula afirmou no X (antigo Twitter) nesta manhã que foi uma ótima reunião e que ficou acertada que as equipes vão se reunir imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e as sanções contra as autoridades brasileiras.
“[De todo modo], ainda não dá para se falar em vitória porque, como vimos, o Brasil apenas pontuou o que quer que aconteça nessa negociação. Os EUA não fizeram exigências, não fizeram demandas, não entraram em detalhes. Os assuntos foram tratados de forma geral”, afirmou Brustolin.
De todo modo, Brustolin diz que o fato dos dois presidentes terem se encontrado e Lula ter sido ouvido por Trump é um avanço. “Isso não significa que teremos resultados práticos nesse momento, mas indica que esse diálogo pode ser frutífero”.
Previsão de reunião de equipes logo após encontro é sinal de que conversa foi boa, avalia professor.
O professor de Relações Internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, por sua vez, afirmou que um ponto importante entre a reunião de Lula e Trump foi a urgência dada as negociações que podem acontecer entre os dois países. Segundo o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, o processo de negociação bilateral deve ser iniciado quanto antes.
A expectativa do governo brasileiro era de um encontro entre as equipes ainda na noite deste domingo, no horário da Malásia, segundo o chanceler Mauro Vieira. Houve, entretanto, uma conversa por telefone entre ele e Jamieson Greer, e o encontro ficou para a manhã de segunda-feira (27).
“Se os americanos tivessem entendido que a conversa não tinha sido boa, eles usariam uma forma diplomática de dizer: daqui a uns dias, daqui a um tempo, nós sentamos para conversar. Como foi boa, ela vai continuar ainda hoje”, afirmou Trevisan.
Segundo o especialista, normalmente, essas reuniões demoram mais para acontecer.
Encontro com impacto significativo na eleição
Para o cientista político Hussein Kalout, ex-secretário de Assuntos Estratégicos no governo Michel Temer (MDB), o encontro foi uma “tremenda vitória” do petista.
Em entrevista à BBC, o cientista político afirmou que a conversa “terá impacto eleitoral significativo” em 2026, quando Lula tentará um quarto mandato presidencial.
“Antes desse encontro, seria um flanco [para a campanha de Lula] qualquer candidato da direita dizer que ele pode estabelecer relações melhores com os Estados Unidos do que Lula, em prol de benefícios para o setor produtivo”, diz o cientista político.
“Esse flanco deixou de existir, a não ser que as negociações degringolem até lá. E, obviamente, o governo vai ser muito cuidadoso para evitar esse fracasso.”
Kalout acredita que a gestão Lula fará o possível para manter esses dividendos eleitorais na disputa pela Presidência em 2026.
“O governo, no limiar, pode eventualmente fazer concessões que não estaria disposto [em outro momento] para não perder essa vitória política. Ou pode fazer ofertas atraentes para os americanos para manter a negociação em curso e esse bom diálogo.”
O cientista político ainda afirmou que a experiência política de Lula foi essencial para superar a crise com Trump.
Clima arrefeceu por posicionamento geopolítico
Para o especialista, a conversa com Mauro Vieira e o chanceler americano, Marco Rubio, que aconteceu há cerca de 10 dias — e resultou no diálogo entre os dois presidentes hoje — foi um dos motivos que arrefeceu o clima de tensão criado entre os dois países, desde que a tarifa de 50% foi anunciada.
“A palavra mágica usada pela diplomacia mágica para desanuviar o clima foi ‘China’. O Brasil disse com todas as letras aos Estados Unidos que pertence ao mundo ocidental. Que nós continuaremos, do ponto de vista geopolítico, do lado ocidental. Isso foi como música para os americanos”, disse Trevisan.