Domingo, 26 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de abril de 2019
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirma que o presidente Jair Bolsonaro agiu ouvindo as ruas quando interferiu no reajuste do diesel, na quinta-feira (11). As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
“Uma greve [de caminhoneiros] traz problema de abastecimento, pode frear o Brasil todo, pode fazer o PIB cair mais 3%, 4%. Ele demonstrou que está com o ouvido na pista, está ouvindo a turma, está ouvindo o barulho.”
Guedes diz que Bolsonaro telefonou ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, apenas para pedir esclarecimentos: “Botaram diesel no meu chope?”.
Ele contou que soube por jornalista que o presidente havia interferido no reajuste do combustível, criticou o monopólio da Petrobras e afirmou que estão sendo estudadas formas de tornar as correções de preço menos voláteis para o combustível.
Sobre a reforma da Previdência, o ministro lamentou que não tenha havido até agora uma aliança de centro-direita que viabilizasse a tramitação mais acelerada.
O ministro disse, no entanto, acreditar na “astúcia” da classe política, que não esperaria mais dois anos para aprovar as mudanças.
Segundo Guedes, o governo tem só três meses, e o Congresso, menos tempo ainda. “Qualquer análise é precipitada. O interessante é o fenômeno em si. [A vitória eleitoral de Bolsonaro] Foi uma aliança política inédita de conservadores e liberais”, afirmou.
A reforma da Previdência, segundo o ministro, vai deslanchar um regime de capitalização e de acumulação de capital. Vai ter poupança interna para empurrar o crescimento.
“Com as concessões, a desregulamentação e as privatizações, nós vamos trazer muitos investimentos, locais e de fora, para participar das privatizações, das concessões e dos novos programas de investimento, principalmente em saneamento e infraestrutura”, afirmou. “Se ela for mais potente, sinaliza para o equilíbrio fiscal. Você abre a comporta e vão entrar ondas de investimento privado.”
Sobre o caso da Petrobras, Guedes relatou que, quando chegou, Bolsonaro conversou com ele. “’Pô, eu só perguntei [sobre o preço para o presidente da Petrobras]. Não tenho nada a ver com esse negócio, não.’ Eu perguntei: ‘Pô cara, você está colocando diesel no meu chope? No dia em que eu comemoro cem dias de governo, todo o mundo acendendo velinha, festejando, aí chega a notícia de que a Petrobras vai fazer assim e assim’”, contou o ministro.
Guedes afirmou que o presidente, no exercício natural de suas funções, questionou como, em 15 dias, o preço do diesel poderia subir 5%. “O presidente tem todo o direito de se preocupar com potenciais greves, de saber quais são os critérios [de reajuste], porque a Petrobras é uma empresa mista [é controlada pela União].”
O presidente da Petrobras, segundo o ministro, explicou que a empresa tem uma política de espaçamento [para reajustar os preços]. Mas que iria checar se houve alguma incorreção no cálculo, nos algoritmos de formação de preços.
Guedes reafirmou que existe a independência na formação de preços da Petrobras.
“É a essência do programa liberal, os preços são formados no mercado e não há intervenção. Se o presidente mete a mão em um preço-chave, não é só o valor da Petrobras que cai R$ 30 bilhões. Na verdade, você tem quase US$ 1 trilhão embaixo do mar, o pré-sal, que perde 10% também”, exemplificou.
“Se começa a fazer intervenção política de preços, você pega todo o programa de concessões, todas as privatizações, vendas e cria a dúvida no investidor”, disse o ministro.