Domingo, 17 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 16 de agosto de 2025
Imagine um idoso que começa a ter dificuldade para caminhar, fica com os passos curtos e arrastados. Logo depois, surgem episódios de incontinência urinária e lapsos de memória. Para a maioria das famílias, esse trio de sintomas — alteração da marcha, problemas urinários e falhas cognitivas — soa como algo típico da idade avançada. Em muitos casos, há até quem confunda com quadros como Alzheimer e Parkinson.
Mas existe uma condição neurológica pouco conhecida que pode se manifestar com esses mesmos sinais e que, ao contrário de muitas outras formas de demência, tem tratamento eficaz — e até cura. Estou falando da hidrocefalia de pressão normal (HPN), um distúrbio que acomete preferencialmente pessoas com mais de 60 anos e exige atenção urgente.
Uma forma de demência reversível
A HPN é um tipo de hidrocefalia que ocorre quando há um acúmulo anormal de líquor — o líquido cefalorraquidiano que banha e protege o cérebro — dentro dos ventrículos cerebrais, mas sem aumento constante da pressão detectada nos exames tradicionais de punção lombar. Daí porque tem o “pressão normal” no nome. Mas, na prática, o cérebro está sendo lentamente comprimido de dentro para fora, o que compromete seu funcionamento e gera sintomas progressivos.
Diferente do Alzheimer, do Parkinson ou de outras doenças degenerativas, a hidrocefalia de pressão normal tem uma causa física tratável. A instalação de uma válvula derivativa — um pequeno dispositivo implantado cirurgicamente — permite drenar o excesso de líquor e aliviar a pressão sobre o cérebro.
Quando o diagnóstico é feito de forma precoce, o paciente pode recuperar totalmente sua autonomia, cognição e qualidade de vida.
Três sinais principais para observar
A tríade clássica de sintomas da HPN é composta por:
Alteração da marcha: os pacientes relatam que “as pernas não obedecem”, como se estivessem coladas ao chão. Os passos ficam curtos e inseguros, o equilíbrio se torna instável e quedas frequentes podem acontecer.
Incontinência urinária: inicialmente discreta, com urgência para urinar, pode evoluir para perdas involuntárias, constrangimentos sociais e isolamento.
Déficit cognitivo: parecido com o Alzheimer, mas geralmente com predomínio de lentidão de pensamento, desatenção e dificuldades para planejar e executar tarefas simples.
Esses sintomas podem aparecer de forma lenta, sutil e, reforço, tendem a ser confundidos com envelhecimento normal ou com outras doenças neurodegenerativas. É por isso que o diagnóstico de HPN ainda é subestimado, mesmo entre profissionais de saúde.
Exames e diagnóstico diferencial
O caminho para identificar a HPN começa com uma avaliação clínica detalhada, com atenção especial à sequência dos sintomas. Depois disso, exames de imagem como a ressonância magnética ou a tomografia computadorizada do crânio são fundamentais, pois são neles que observamos a dilatação dos ventrículos cerebrais sem sinais de atrofia cortical compatível com o volume aumentado.
Para confirmar a hipótese e, então, indicar a cirurgia, é feito um teste chamado “TAP Test” (Teste da Torneira). Para realizá-lo, retira-se uma quantidade controlada de líquor por punção lombar e avalia-se a melhora clínica nas horas seguintes. Isso é, colocamos o paciente para caminhar e analisamos como ele se comporta. Se a melhora for significativa, está confirmada a HPN – assim, a cirurgia de derivação ventriculoperitoneal é indicada. Nesta cirurgia, uma válvula é implantada no cérebro e conduzirá, dali em diante, todo o excesso de líquor para a cavidade abdominal, onde será absorvido naturalmente. Dessa forma, o paciente volta a ter vida normal.
A saber: um adulto saudável produz cerca de 500 mililitros (ml) de líquor por dia, numa circulação contínua e reabsorvida em equilíbrio. Quando esse fluxo é alterado — por trauma, infecção, tumor ou causas idiopáticas —, o acúmulo pode gerar a hidrocefalia, com consequências neurológicas graves se não tratada. As informações são do portal Estadão.