Domingo, 28 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de dezembro de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Vivemos uma onda anti-intelectualista. O filósofo escocês Alasdair MacIntyre chama a isso de Know Nothing, o triunfo do “saber nenhum”. A malta tem raiva de quem sabe “as coisas” e de quem tenta explicar a realidade de uma forma mais sofisticada. Isto é assim nos meios de comunicação, nas ruas, nas famílias e começa a chegar nas universidades. O Saber Nenhum ou Burrice é Fashion ganha espaço dia a dia.
Por isso, tenho um pedido ao Papai Noel. Peço que ele interceda. Que as pessoas leiam mais. Não é feio ser culto. E, podem crer, é feio ser ignorante. Pessoas que dizem estultices só são bem quistas no meio das pessoas…que dizem estultices. Simples assim.
O jornalista Philipp Lichterbeck escreveu interessante texto sobre esse assunto, falando especificamente do Brasil. Publicou no site da Deutsche Welle. Passo aos meus leitores e ao Papai Noel algumas das questões levantadas no artigo:
No Brasil, está na moda um anti-intelectualismo que lembra a Inquisição. Seus representantes preferem Silas Malafaia a Immanuel Kant.
É sabido que viajar educa o indivíduo, fazendo com que alguém contemple algo de perspectivas diferentes. Quem deixa o Brasil nos dias de hoje deve se preocupar. O País está caminhando rumo ao passado.
Na história, já houve momentos frequentes de regresso. Jared Diamond os descreve bem em seu livro Colapso: Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Motivos que contribuem para o fracasso são, entre outros, destruição do meio ambiente, negação de fatos, fanatismo religioso. Assim como nos tempos da Inquisição, quando o conhecimento em si já era suficiente para tornar alguém suspeito de blasfêmia.
Está na moda um anti-intelectualismo horrendo, “alimentado pela falsa noção de que a democracia significa que a minha ignorância é tão boa quanto o seu conhecimento”, segundo dizia o escritor Isaac Asimov. Ouvi uma anedota de um pai brasileiro que tirou o filho da escola porque não queria que ele aprendesse sobre o cubismo. O pai alegou que o filho não precisa saber nada sobre Cuba, que isso era doutrinação marxista. Não sei se a história é verdade. O pior é que bem que poderia ser.
A essência da ciência é o discernimento. Mas os novos inquisidores amam vídeos com títulos como “Feliciano destrói argumentos e bancada LGBT”. Destruir, acabar, detonar, desmoralizar – são seus conceitos fundamentais. E, para que ninguém se engane, o ataque vale para o próprio esclarecimento.
Os inquisidores não querem mais Immanuel Kant, querem Silas Malafaia. Não querem mais Paulo Freire, querem Alexandre Frota. Não querem mais Jean-Jacques Rousseau, querem Olavo de Carvalho. Não querem Chico Mendes, querem a “musa do veneno”.
Dá para imaginar para onde vai uma sociedade que tem esse tipo de fanático como exemplo: para o nada. Os sinais de alerta estão acesos em toda parte.
E, como se fosse uma sátira, no Brasil de 2018 há a homenagem a um pseudocientista na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, que defende a teoria de que a Terra seria plana, ou “convexa”, e não redonda. A moção de congratulação concedida ao “pesquisador” foi proposta pelo presidente da AL e aprovada por unanimidade pelos parlamentares. Bingo, Phillip!
Encerro, clamando: Papai Noel, ajude-nos! Vamos estocar comida!
E desejo um Feliz Natal a todos os leitores desta coluna hebdomadária!
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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