Domingo, 06 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2024
Em junho, após a morte de um empresário em São Paulo em decorrência de um peeling de fenol realizado por uma esteticista e influenciadora, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização de produtos que contenham a substância no Brasil. De acordo com a autarquia, o veto permanecerá vigente enquanto são conduzidas investigações sobre a segurança do fenol.
No entanto, no final de julho, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), em conjunto com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), enviaram um documento à agência em que pediram a revogação da proibição e apresentaram evidências de segurança e eficácia do fenol, desde que manuseado por médicos habilitados. Após um mês sem resposta da Anvisa, a SBD levou a questão à Justiça.
“Já tem mais de um mês que enviamos o dossiê e não obtivemos resposta. Depois de três semanas sem resposta, nós judicializamos (o tema) pela SBD. A Anvisa já foi notificada, e agora cabe (esperar) o julgamento, se a sentença será favorável ou não”, conta o presidente da SBD, Heitor de Sá Gonçalves.
O peeling de fenol foi um dos grandes tema de palestras realizadas ao longo desta semana no 77º Congresso Brasileiro da SBD. O presidente da entidade falou sobre o procedimento, o apelo à Anvisa e a discussão em torno da realização de outros procedimentos invasivos, como botox e preenchimentos com ácido hialurônico, por não médicos.
“O peeling de fenol é um procedimento que atinge camadas mais profundas da pele chegando até a derme e provocando uma retirada das células envelhecidas e promovendo uma renovação celular acompanhada por uma indução da produção de colágeno. Isso vai melhorar rugas finas, rugas um pouco mais profundas, a textura da pele. É um peeling, do ponto de vista de rejuvenescimento, com alta eficácia.”, explica.
Ele completa que é um procedimento invasivo, já que atinge camadas mais profundas da pele. Isso significa que ele pode ter efeito sistêmico no corpo, porque na derme temos circulação sanguínea. “Então aquela substância pode entrar na circulação e levar a efeitos adversos como a toxicidade cardíaca, que pode causar uma arritmia e até um óbito, se não for corretamente diagnosticado rapidamente e revertido”.
Indicação médica
Por isso, continua o dermatologista, ele precisa ser uma indicação médica e aplicado por um médico que tenha treinamento, seja habilitado para utilizar o fenol. E precisa ser feito num ambiente onde ele possa monitorar antes, durante e depois do procedimento todas as funções cardíacas e renais, para ser possível detectar qualquer efeito adverso de forma rápida e revertê-lo. “De preferência, deve ser realizado em ambiente hospitalar ou numa sala de pequena cirurgia que tenha essa possibilidade de monitoramento”, conclui.
Como o senhor vê a proibição estabelecida pela Anvisa para os produtos de fenol?
“Não concordamos. Você tem um remédio que foi um instrumento para causar um delito e, ao invés de focar em quem causou o delito, você vai proibir o remédio? A forma de corrigir é normatizar, criar regras, dizer quem pode e quem não pode usar o fenol. Cobrar isso, monitorar e fiscalizar, e esse é o papel que eu entendo ser da Anvisa. Como acreditamos que o peeling de fenol é seguro, desde que aplicado pelo profissional habilitado e da forma e ambiente corretos, mandamos para a Anvisa um dossiê de indicações do uso do fenol, que não é adotado apenas na cosmetologia, junto com as evidências de eficácia e segurança pedindo a revisão da medida.”
A Anvisa deu alguma resposta? Existe algum diálogo?
“Já tem mais de um mês que enviamos o dossiê e não obtivemos resposta. Depois de três semanas sem resposta, nós judicializamos (o tema) pela SBD. A Anvisa já foi notificada, e agora cabe (esperar) o julgamento, se a sentença será favorável ou não (à suspensão da proibição da Anvisa).” As informações são do jornal O Globo.