Quinta-feira, 31 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 7 de dezembro de 2020
Na percepção de 92% dos entrevistados, mulheres sofrem mais situações de constrangimento e assédio no ambiente de trabalho que os homens, segundo levantamento
Foto: DivulgaçãoMulheres sofrem mais assédio moral e sexual no ambiente de trabalho do que os homens, de acordo com pesquisa do Instituto Patrícia Galvão: 40% delas dizem que já foram xingadas ou já ouviram gritos no trabalho, contra 13% dos homens que vivenciaram a mesma situação. Dentre os trabalhadores que tiveram seu trabalho excessivamente supervisionado, 40% também são mulheres e 16% são homens.
Com o objetivo de fomentar o debate sobre as situações de violência e assédio no ambiente de trabalho, a pesquisa, feita em parceria com o Instituto Locomotiva com apoio da Laudes Foundation, mapeou as percepções da população sobre a temática e as experiências de assédio e constrangimento vividas pelas mulheres no ambiente de trabalho.
A pesquisa também revelou que na percepção de 92% dos entrevistados, mulheres sofrem mais situações de constrangimento e assédio no ambiente de trabalho do que os homens.
Para Adriane Reis, coordenadora nacional de Promoção da Igualdade e Eliminação da Discriminação no Trabalho – Coordigualdade, do MPT-SP (Ministério Público do Trabalho de São Paulo), apesar de ambos os sexos sofrerem assédio em empresas, a mulher ainda fica em uma situação pior porque o ambiente de trabalho reproduz valores de uma sociedade machista.
“Vivemos em uma sociedade machista, o que significa que há uma compreensão dentro do nosso imaginário social de que os homens estão em posição de superioridade em relação às mulheres, então eles têm acesso a cargos de maior poder e remuneração, enquanto as mulheres ficam em cargos de apoio e são vistas como pessoas que estão a serviço dos homens, muitas vezes como objetos até sexuais. Por acontecer isso dentro da nossa sociedade, há a repetição dessa prática dentro das empresas. Muitas vezes a gestão é tão autoritária e abusiva que você observa práticas de assédio moral em todo o conjunto de trabalhadores, mas ainda assim a mulher fica em situação pior porque há no imaginário social essa naturalização de a mulher fazer um trabalho inferior”, afirma.
Trabalhadoras e trabalhadores ouvidos pela pesquisa, sem serem identificados, contam sobre quando foram xingados nos empregos. “Já levei gritos quando era mais jovem por superior, mas na época achei que era o certo para que eu aprendesse mais sobre o trabalho a ser realizado e hoje sei que não é o certo esta maneira de tratar o funcionário, por mais inexperiente que seja”, afirma uma entrevistada.
“Fui xingada várias vezes com predicativos de burra, débil mental, pouco profissional, amadora, estagiária de 15 anos que não sabe nada, mas como tinha que pagar aluguel não disse nem ‘a’ e nem ‘b’, porque com a minha idade, gordinha e mulher, não tenho muitas oportunidades de emprego”, afirma entrevistada.
A pesquisa foi feita online com homens e mulheres de todo o Brasil, com 18 ou mais anos de idade. Foram 1.500 entrevistas realizadas de 7 a 20 de outubro de 2020. A margem de erro é de 2,9 pontos percentuais para mais ou para menos.