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Brasil Perfil falso na Wikipédia é citado em decisão judicial e trabalho acadêmico

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Foto que ilustrava o perfil de Mirandópolis na Wikipédia (foto: Reprodução/Internet)

Jurista, professor de Direito, amigo de Chico Buarque e inspirador do famoso “Samba de Orly”, Carlos Bandeirense Mirandópolis é citado em trabalho acadêmico, documentário e até decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

O problema é que ele não existe. “Nasceu” no Wikipédia em 2010 quando dois advogados de São Paulo decidiram criar um perfil falso para pregar uma peça em um estagiário.

Desde então, o conteúdo do perfil bem elaborado, que traz fotos e detalhes biográficos, se espalhou pela internet, e o personagem passou a ser mencionado como se, de fato, existisse.

No Wikipédia, Carlos Bandeirense Mirandópolis é apresentado como catedrático da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Foi perseguido durante a ditadura militar (1964-1985) e se exilou em Paris.

Segundo a enciclopédia virtual, na Europa, o jurista fictício conheceu Chico Buarque de Hollanda e inspirou o compositor na música “Samba de Orly”, uma parceria entre o próprio Chico, Toquinho e Vinícius de Moraes.
“Segundo ele [Chico Buarque], a composição de Mirandópolis era muito mais bela, porém este nunca permitiu que fosse gravada, pois não queria perpetuar na partitura a tristeza do exílio!”, diz o texto, com toque de poético.

Mas, a assessoria de Chico Buarque disse que o compositor não conhece o jurista. A PUC-SP informou que nunca teve em seus quadros um professor com o nome de Carlos Bandeirense Mirandópolis.

O texto do Wikipédia não para por aí. Também diz que o jurista fictício retornou ao Brasil na década de 1980 e atuou ativamente no comício das Diretas Já. Essa participação que nunca existiu é citada em uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, de 10 de novembro de 2014.

Mirandópolis é mencionado pela relatora de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) que pedia a derrubada da lei estadual que proibiu o uso de máscaras em manifestações.

A lei foi aprovada após a onda de protestos de rua em 2013 e determinou que as máscaras poderão ser usadas em eventos culturais, mas, se uma pessoa for presa com o rosto coberto em uma manifestação de rua, deverá ser encaminhada a uma delegacia.

A desembargadora Nilza Bittar negou o pedido para declarar a lei inconstitucional e destacou, no voto, que Carlos Bandeirense Mirandópolis não usou máscara quando participou do comício das Diretas Já, assim como personalidades como Ulysses Guimarães, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. A menção ao jurista fictício não invalida a decisão judicial.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro disse que a menção feita pela desembargadora a Carlos Bandeirense Mirandópolis teve como fontes a página do núcleo de memória da PUC do Rio de Janeiro e o filme “Diretas Já”.
O Tribunal afirmou ainda que a menção teve caráter meramente ilustrativo, não exercendo qualquer influência ou contribuição jurídica para o embasamento da decisão.

Citação acadêmica
Carlos Bandeirense Mirandópolis também aparece em um trabalho acadêmico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sobre produções artísticas censuradas na ditadura militar. A estudante do curso de arquivologia menciona que Chico Buarque se tornou amigo de Mirandópolis, em viagem à França. O jurista também é citado em um documentário sobre as Diretas Já e em diversos outros sites sobre a ditadura militar e a redemocratização.

A invenção
Os “criadores” de Carlos Bandeirense Mirandópolis são os advogados Vitor Nóbrega Luccas e Daniel Tavela. Eles contaram que perceberam uma “dinâmica” entre os estagiários de usar informações da internet para fazer as pesquisas jurídicas.

Decidiram, então, pregar uma peça e mandaram que um dos jovens fizesse uma pesquisa sobre a teoria da Oferta Pública de Associação, que não existe.

Para dar veracidade à história, criaram o perfil de Mirandópolis, que seria o autor da tese. “A ideia veio de uma experiência com um estagiário que eu e o Vitor tivemos e a gente tinha identificado nele uma dificuldade em fazer pesquisa. Particularmente, por ele acreditar em tudo que aparecia na internet. Aí a gente resolveu criar esse personagem e fazer essa experiência didática com ele”, disse Daniel Tavela.

O que os advogados não esperavam era que o estagiário não seria o único a “cair” na brincadeira. Vitor Nóbrega diz que viu com “surpresa” a citação a Carlos Bandeirense Mirandópolis em uma decisão judicial.

“A coisa tomou uma proporção que a gente nunca imaginava. Eu esperava aparecer em alguns blogs, mas não em uma fonte mais séria. Eu gargalhei. Mas, se é engraçado por um lado, é triste por outro, porque as pessoas não estão usando a internet corretamente”, afirmou o advogado.

Segundo os advogados, a foto que ilustrava a página, e que seria uma imagem do suposto jurista, foi adicionada depois da criação do perfil de Mirandópolis, por uma outra pessoa. Trata-se da foto do prefeito de Viena, na Áustria, Michael Häupl. (AG)

 

 

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https://www.osul.com.br/perfil-falso-na-wikipedia-e-citado-em-decisao-judicial-e-trabalho-academico/ Perfil falso na Wikipédia é citado em decisão judicial e trabalho acadêmico 2016-02-23
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