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Brasil Perseguição na infância afeta a saúde física e mental e tem reflexos na vida adulta das vítimas

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No caso dos relatos de violência física, foram 165 no segundo semestre de 2017 e 135 no primeiro semestre de 2018. (Foto: Reprodução)

A fobia escolar de Lívia, de 12 anos, chegou ao ponto de a menina não conseguir segurar um lápis. O uniforme, os livros, o caderno, tudo a fazia passar mal. Suava, entrava em pânico, dizia que era melhor morrer. Ameaçou se jogar da janela e pular de um carro em movimento.

A menina foi alvo de bullying em vários momentos da vida, até desenvolver uma grave depressão no ano passado, conta a mãe, a pedagoga Maria Clara, 51 – os nomes foram trocados para preservar a identidade das duas.

Após os pensamentos suicidas, a menina foi afastada da escola por recomendação médica e perdeu os anos letivos de 2016 e 2017.

O bullying, segundo especialistas, afeta não somente a criança e o adolescente, mas também suas famílias e, em casos mais graves, deixa marcas por toda a vida.

No último dia 20, um estudante atirou contra colegas em uma escola em Goiânia e matou dois deles. Ele disse ter sido vítima de bullying, o que reacendeu o debate sobre o tema.

No caso de Lívia, o preconceito racial foi um componente importante. Ela é negra e foi adotada por pais de classe média alta em Belo Horizonte. Em dois anos, passou por quatro colégios. Alguns de elite, com maioria branca, e outros mais diversos, onde o problema persistiu.

“A sociedade é tão racista que basta a criança ser um pouco mais clara para se achar no direito de chamar o mais escuro de macaco, gorila”, conta Maria.

Lívia foi hostilizada e agredida fisicamente. Ninguém queria fazer trabalhos com ela nem a convidava para atividades. “Talvez eu nunca saiba direito o que aconteceu com a minha filha na escola. Muita coisa ela fez questão de esquecer”, diz a mãe.

Além da exclusão em sala, a menina foi atacada por mensagens na internet, que incluíam incitação ao suicídio.

De acordo com especialistas, o cyberbullying pode ser ainda mais danoso. “É pior, porque nem no fim de semana a criança consegue escapar”, diz a pedagoga Cleo Fante, autora do livro “Fenômeno Bullying”.

Os primeiros sintomas da depressão de Lívia apareceram em 2016: irritabilidade, desânimo, falhas na memória e dificuldade de concentração. Dois meses depois, após ser chamada repetidas vezes de “monstro”, ela deu um tapa em uma menina.

Depois disso, não conseguiu mais retornar ao colégio. A depressão se agravou. Vieram as ameaças de suicídio, a fobia escolar. A menina passou 40 dias sem sair de casa, trancada em um quarto.

“Nesse momento veio também a compulsão alimentar. Ela engordou 17 quilos em um mês”, conta a mãe. Hoje Lívia está estável, mas toma quatro remédios, faz terapia três vezes por semana e tem aulas particulares em casa, para tentar vencer o medo.

Em muitos casos, as consequências do bullying aparecem com mais força na vida adulta. O eletricista Marcos, de 30, cujo nome também foi trocado, largou a escola por não suportar a perseguição.

Ele faz tratamento para depressão e tentou se suicidar. “Foram várias tentativas, mas amigos conseguiram me impedir. Com a psicóloga, notei que isso vem desde a infância, pelo bullying”, conta ele, que levava chutes, socos e tapas no colégio, no interior de Minas Gerais.

Atualmente, os remédios psiquiátricos dificultam o trabalho de eletricista – ele não pode usar certas máquinas, como furadeiras. Assim como Lívia, Marcos é negro e diz que a questão racial foi um dos motivos para o bullying. “Não adiantou mudar de escola, a perseguição continuava.”

Para Lucas, que também pediu para não ser identificado, trocar de colégio ajudou. Mesmo assim, o bullying teve consequências graves.

Com 25 anos, o produtor faz terapia e já teve crises de ansiedade. Lucas diz que o bullying na escola, em Goiânia, tinha motivação homofóbica.

“Era empurrado, intimidado. As professoras fingiam não ver esse bullying homofóbico, para ver se a criança ‘se corrigia'”, diz. A experiência o deixou com um profundo medo de rejeição, o que prejudica sua autoestima e relacionamentos atuais.

A especialista em neuropsicologia Nadia Bossa afirma que o bullying pode afetar a saúde física e mental. “É uma situação de extrema tensão, que provoca um desequilíbrio celular e psíquico. As consequências disso ao longo do tempo são severas”, explica.

Lucas lembra ainda que, se reclamasse com adultos, a situação piorava. “Os alunos ameaçavam me bater”, diz.

“Contar para o adulto pode ser um terror, por isso eles param de contar. A ação dos próprios alunos é 75% mais eficaz do que a intervenção de adultos. O colega, que está de espectador, pode falar: ‘Para, nada a ver isso'”, explica a pedagoga Telma Vinha, professora da Unicamp.

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