Sexta-feira, 02 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 12 de maio de 2023
Uma planta que não tem nenhuma relação com a Cannabis, popularmente conhecida como maconha, mas produz uma grande quantidade de canabinoides, foi descoberta na África do Sul. Em estudo publicado recentemente na revista científica Nature Plants, pesquisadores do Weizmann Institute of Science relataram a presença de mais de 40 canabinoides, incluindo alguns com usos medicinais, na Helichrysum umbraculigerum, planta parente dos girassois, das margaridas e dos alfaces.
A descoberta, segundo os cientistas, reforça o potencial terapêutico do vegetal. Os canabinoides já são amplamente aplicados para aliviar dores, náuseas, ansiedade e crises epilépticas, e a lista de seus possíveis usos está crescendo rapidamente. Receptores moleculares que respondem a esses compostos são comuns em humanos, não apenas no cérebro, mas também em todo o corpo, sugerindo que os canabinoides que se ligam a eles podem ser usados para tratar de tudo, desde câncer até doenças neurodegenerativas.
No estudo, além de identificar os compostos, os pesquisadores desvendaram as etapas bioquímicas que a planta realiza quando produz esses compostos e mostraram como elas podem ser reproduzidas em laboratório para sintetizar e até mesmo projetar novos canabinoides.
“Encontramos uma nova fonte importante de canabinoides e desenvolvemos ferramentas para sua produção sustentada, o que pode ajudar a explorar seu enorme potencial terapêutico”, diz Shirley Berman, que liderou o estudo, em comunicado.
Rituais religiosos
O guarda-chuva de lã, como a planta é popularmente conhecida, é queimado em rituais religiosos na África do Sul para liberar uma fumaça intoxicante, o que sugere que ele pode conter substâncias químicas que afetam o cérebro. Há mais de 40 anos cientistas alemães encontraram evidências de que a planta contém canabinoides, mas esse foi o primeiro estudo capaz de comprovar isso.
Com a ajuda de tecnologia de ponta, a equipe sequenciou todo o genoma do guarda-chuva de lã e usou química analítica avançada para identificar os tipos de canabinoides. Usando ressonância magnética nuclear, os pesquisadores descobrira, a estrutura precisa de mais de uma dúzia desses canabinoides e outros metabólitos. Eles também rastrearam todo o caminho bioquímico envolvido na produção desses compostos e determinaram onde na planta eles são produzidos.
Seis canabinoides iguais os da maconha
Os resultados mostraram que entre os mais de 40 canabinoides encontrados na planta, seis são idênticos aos da cannabis. Os mais famosos – o THC (tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol) – não estão presentes, mas o CBG (canabigerol), sim.
O CBG é uma estrela em ascensão na pesquisa de canabinoides, com diversas aplicações terapêuticas potenciais. Além disso, a forma ácida do composto serve como precursor para a produção de todos os canabinoides clássicos, apoiando a ideia de que o guarda-chuva de lã pode se tornar uma fonte valiosa de canabinoides vegetais.
“O próximo passo emocionante seria determinar as propriedades dos mais de 30 novos canabinóides que descobrimos e, em seguida, ver quais usos terapêuticos eles podem ter”, diz Berman.
Além disso, enquanto a Cannabis produz canabinoides nos cachos de flores ou inflorescências, no guarda-chuva de lã, esses compostos são encontrados na folha, que tem uma vida útil muito maior e é mais fácil de colher.
No entanto, a finalidade dos canabinoides nas plantas ainda é um mistério, mas acredita-se que essas substâncias fornecem defesas contra animais ou riscos ambientais
“O fato de que, no curso da evolução, duas plantas geneticamente não relacionadas desenvolveram independentemente a capacidade de produzir canabinoides sugere que esses compostos desempenham importantes funções ecológicas”, explica Asaph Aharoni, chefe do laboratório no Departamento de Ciências Vegetais e Ambientais de Weizmann onde o estudo foi realizado. “Mais pesquisas são necessárias para determinar quais são essas funções.”