Terça-feira, 13 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 5 de setembro de 2021
Lançado em novembro de 2020, o PIX surgiu como uma forma inovadora de pagamentos e transferências bancárias instantâneas e sem custo. Caiu, assim, rapidamente no gosto da população.
A facilidade de movimentar dinheiro, entretanto, também atraiu criminosos e gerou uma onda de golpes relacionados ao sistema – e o Banco Central já anunciou novas regras para frear a escalada de crimes envolvendo o sistema.
Somente em agosto, foram registradas ao menos 19 notícias de crimes envolvendo o PIX no País, que vão de clonagem de números de celular até sequestros relâmpago com o objetivo de transferir grandes quantias da conta da vítima.
Especialistas avaliam que não há um problema específico no PIX, mas uma questão generalizada de segurança pública e de falta de educação digital. Eles veem como positivas as alterações propostas pelo Banco Central, mas acreditam que são insuficientes para coibir os crimes do tipo.
Na semana passada, a instituição financeira anunciou mudanças, entre elas transferências de até R$ 1 mil entre 20h e 6h, prazo mínimo de 24h para aprovação de aumento do limite de transações e cadastro prévio de contas que poderão receber PIX em valores acima dos limites estabelecidos.
Falta de informação
Oscar Zucarelli, gerente de segurança da informação da CertiSign e especialista em proteção de dados e prevenção a fraudes, explica que o programa foi desenvolvido com uma tecnologia já conhecida, semelhante ao TED e ao DOC, que são métodos seguros. O que falta, em sua visão, é mais informação para os usuários.
“Quando pensamos em segurança da informação, é impossível garantir 100% de proteção. Obviamente, quando a gente começa a implementar alguns controles, eles vão reduzir os riscos, mas dizer que eles vão resolver é outra coisa”, afirmou.
E acrescenta: “Uma das medidas que está sendo colocada é a possibilidade que uma transação fique retida por 30 minutos durante o dia, e até 60 minutos durante a noite. Mas o PIX não veio para ser um pagamento imediato? Então você começa a descalibrar a funcionalidade e a segurança, porque vão existir esses riscos”.
Estes golpes cibernéticos são classificados como “engenharia social”, explica Zucarelli. Nestes casos, o ladrão tenta enganar um usuário de boa fé e faz com que a vítima passe as informações que são importantes para obter ganhos financeiros.
“São atos que buscam a fragilidade das pessoas para conseguir os dados e as transferências financeiras. A gente não fala que a falta de segurança de informação é um problema de segurança pública”, aponta.
Aprendizado
Rogério Melfi, coordenador do Grupo de Trabalho de Open Banking da ABFintechs, concorda que o PIX não é o culpado pelos crimes financeiros, porque eles “infelizmente sempre existiram com outros meios de pagamento”. Em sua visão, o sistema trouxe muitas vantagens, pois não excluiu nenhum outro canal, apenas somou.
Para proteger as contas de eventuais roubos e sequestros, ele indica usar aplicativos para deixar os bancos em pastas ocultas no celular, ou usar um aparelho separado com apps financeiros e deixá-lo em casa. Caso caia em algum golpe, sugere entrar em contato com a instituição financeira o mais rapidamente possível, além de registrar a ocorrência em uma delegacia.
Uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), feita em parceria com o Sebrae, mostrou que o PIX é o segundo método de pagamento preferido da população, com 70%. A tecnologia só fica um pouco atrás dos pagamentos em dinheiro, com 71%.
Crimes variados
Um dos delitos mais comuns envolvendo o sistema é o golpe do WhatsApp. Criminosos clonam o número de telefone e a foto de perfil de uma pessoa e enviam mensagem pelo aplicativo de mensagens a parentes e amigos para pedir dinheiro pelo PIX. A pessoa transfere a quantia achando se tratar do conhecido, mas na verdade está transferindo para o golpista.
O sequestro relâmpago, em que criminosos fazem a vítima de refém até que ela transfira grandes quantias para contas logo desativadas, também preocupa. Só no estado de SP, entre janeiro e julho, houve aumento de 39% na ocorrência dessas abduções no geral, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública.
O gamer e influenciador digital Arthur Ramos, conhecido como “Crusher Fooxi 10” no jogo Free Fire, foi uma das vítimas. O rapaz foi sequestrado em 18 de agosto junto com a namorada e a sogra, e os três foram levados até a capital. No caminho, as vítimas acabaram obrigadas a realizar transferências via PIX que somaram R$ 35 mil.