Quarta-feira, 11 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 29 de março de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Os governos – todos eles – reclamam da imprensa. E não somente os governo, as oposições. Tanto Lula e o PT como Bolsonaro e os seus simpatizantes se queixam amargamente da cobertura dos meios de comunicação – sinal claro de que a imprensa cumpre bem o papel que lhe é reservado nos regimes democráticos. Se todos reclamam só pode ser porque existe equilíbrio no tratamento jornalístico dos partidos, dos políticos das várias correntes.
Os militantes partidários, os políticos, parecem que leem com um olho só o que se publica nos jornais, na televisão, nas emissoras de rádio : só acusam os golpes sofridos, sem notar que com frequência quase simétrica também criticam os adversários.
Há certa razão da chorumela. Não faz sentido algum a existência de um jornal, uma revista, que dê destaque aos quilômetros de asfalto inaugurados , às escolas abertas e reformadas pelo governo. O jornalismo tem de ser – e em larga faixa é – a voz do cidadão comum, e não apenas refletir os interesses dos poderosos e dos endinheirados.
Notem que estou falando da imprensa independente. Não é o caso de revistas como Oeste, ou sites como Brasil 247 (para ficar só em dois exemplos ), que na verdade são apenas porta-vozes de facções políticas. E cuja existência e funcionamento, se diga logo, é natural e legítima nas sociedades plurais.
Vejam o governo Lula. Semana passada ele lançou o Plano Juventude Negra Viva. Lula esteve presente e de cima do palanque advertiu que o projeto não mereceria a cobertura da imprensa, atribuindo tal atitude a uma parcialidade e tendência facciosa contra si e o seu governo.
Lula tem razão em um ponto: a imprensa não deu e nem vai dar maior cobertura ao plano. É que ele pertence a uma categoria bem conhecida das ações de todos os governos em geral e do PT em particular – está mais para a propaganda, para a promessa de futuro, do que pode representar em políticas públicas consistentes e duradouras.
A imprensa deu ao plano o valor que ele tem no momento : é um simples documento. É papel. Tudo ainda está por fazer. Por que a imprensa valorizaria tão corriqueira manobra de governo?
Porque a imprensa daria ressonância a um plano que prevê 200 ações e 43 metas específicas e que envolve mais uma dúzia de ministérios? Tal quantidade de ações, de metas e de organismos públicos envolvidos só pode resultar em fracasso – veio para produzir manchetes e não para funcionar. Por que ligar os holofotes da imprensa em estágio de mera declaração de boas intenções, lançada aos ares com pompa e circunstância, cheirando mais a marketing e propaganda do que a realização efetiva?
A imprensa sabe muito bem que a maioria daquelas ações e metas já estão previstas e em curso nos ministérios, secretarias, departamentos, repartições e organismos. Tudo consta do infindável aparato de todos os governos. Só que não funciona ou funciona muito mal. O fato de estarem reunidos e sistematizados em um Plano dão um breve fôlego aos governantes: parece que estão trabalhando duro e cumprindo seu papel e dever. Mas soluções de verdade demoram mais tempo e dão muito mais serviço.
Tito Guarniere
titoguarniere@terra.com.br
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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