Quinta-feira, 16 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de outubro de 2025
Entre os presos na operação, está um falso pai de santo
Foto: Polícia Civil/DivulgaçãoA Polícia Civil gaúcha deflagrou nesta quinta-feira (16) a Operação Falsa Fé, uma ofensiva interestadual contra uma organização criminosa especializada em aplicar o chamado “golpe do falso pai de santo”. A investigação foi conduzida pela 3ª Delegacia de Polícia de Canoas, com o apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública e da Polícia Civil de São Paulo.
Durante a operação, 120 policiais civis do RS e de SP cumpriram 18 mandados de busca e apreensão e sete de prisão temporária nas cidades paulistas de São Paulo, Itapevi, Cotia e Jacareí.
Oito pessoas foram presas, incluindo um falso pai de santo. Os agentes apreenderam um veículo e celulares. Contas bancárias dos investigados foram bloqueadas.
O golpe
Segundo a Polícia Civil gaúcha, uma mulher viveu um verdadeiro pesadelo ao cair em um golpe “sofisticado” que se aproveitou da sua fragilidade emocional após o término de um relacionamento. O caso revela uma trama de manipulação psicológica, ameaças e extorsão que levou a vítima a perder mais de R$ 180 mil em supostos “trabalhos espirituais” prometidos por falsos líderes religiosos nas redes sociais.
Tudo começou em 29 de maio, quando a vítima viu em uma rede social um anúncio de uma suposta mãe de santo que dizia ter o poder de “trazer o amor de volta” por meio de rituais espirituais. Abalada emocionalmente, ela entrou em contato com a mulher.
Logo na primeira conversa, a golpista afirmou que poderia resolver o problema amoroso mediante um ritual de “amarração”, no valor de R$ 300. A vítima realizou o pagamento via Pix, mas, em seguida, a falsa mãe de santo alegou que seria necessário um “trabalho de dominação de coração”, exigindo mais R$ 750.
Quando a vítima tentou desistir, foi informada de que o cancelamento não seria possível porque os “nomes já estavam na mesa” e que as supostas entidades poderiam puni-la caso interrompesse o processo. A partir daí, começou uma escalada de exigências e ameaças.
Em poucos dias, a falsa religiosa passou a pedir valores cada vez maiores, alegando que as entidades espirituais exigiam novos rituais, como “benzimentos”, “casamento de almas” e “afastamento de rivais”. A criminosa ainda garantia que todos os valores seriam devolvidos em poucas horas após cada ritual, o que nunca aconteceu.
No dia 30 de maio, outro personagem entrou em cena: um homem que se apresentou como pai de santo e suposto chefe do terreiro. Em tom autoritário, ele começou a intimidar a vítima, dizendo que ela estaria “enganando as entidades” e que sofreria consequências se não realizasse os pagamentos exigidos.
Os criminosos se revezavam em mensagens e ligações, utilizando uma linguagem mística e ameaçadora. A vítima, temendo ser exposta ao ex-companheiro (cujos dados os golpistas afirmavam conhecer), acabou cedendo às pressões e realizando sucessivas transferências via pix e TED para diferentes contas bancárias.
Os valores pagos foram destinados a contas de diversas pessoas físicas, em diferentes instituições financeiras. Os pagamentos variavam entre R$ 1,5 mil e R$ 37 mil, chegando a somar mais de R$ 180 mil ao longo de um mês.
Em determinado momento, o golpista chegou a inventar que precisava comprar um bode preto para concluir um dos rituais, pedindo mais R$ 1,5 mil. Após, afirmou que o dinheiro da vítima estava “bloqueado pelo banco” e que seria necessário pagar taxas adicionais de 4%, depois 13,5%, para a liberação dos valores, totalizando novos prejuízos.
Os criminosos ainda enviaram prints falsos de conversas com supostos gerentes bancários e até de um empresário que teria uma loja de carros, tentando dar credibilidade às mentiras.
Mesmo diante de sucessivos pagamentos e promessas não cumpridas, as ameaças continuaram. O golpista dizia que “as entidades estavam furiosas” e exigiam novos valores para “reforçar o trabalho espiritual”. Cansada, emocionalmente abalada e endividada, a vítima finalmente decidiu procurar a Polícia Civil, que agora investiga o caso como estelionato e extorsão.
Segundo a delegada Luciane Bertoletti, as investigações indicaram que o grupo criminoso atua de forma organizada, utilizando perfis falsos em redes sociais para captar pessoas fragilizadas, geralmente em momentos de sofrimento emocional.