Sábado, 03 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 2 de maio de 2025
Carlos Lupi, que pediu demissão do ministério da Previdência nesta sexta-feira (2) em meio à crise dos descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), é um político experiente, figurão do PDT, partido que preside (esteve licenciado enquanto ministro) e que fundou, ao lado do ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola.
Ele ocupou o Ministério da Previdência Social desde janeiro de 2023, quando teve início o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-deputado federal Wolney Queiroz será o seu substituto no cargo.
O ingresso no governo teve apoio de outra liderança do PDT, o ex-governador Ciro Gomes, do Ceará, que havia disputado a Presidência em 2022, e manteve distância de Lula no segundo turno, apesar do apoio de seu partido ao petista.
A demissão nessa sexta-feira não foi a primeira em que o líder do PDT deixa o governo sob pressão. Em 2011, Lupi também pediu demissão e deixou o governo Dilma Rousseff (PT) após uma sequência de denúncias que colocavam em xeque suas relações com ONGs (Organizações Não-Governamentais).
O primeiro foco de crise à época foi uma reportagem da revista “Veja” que apontava assessores pedindo propina a ONGs para manter contratos com a pasta. Depois, o portal Folha de São Paulo mostrou que Lupi beneficiava ONGs ligadas ao PDT, algumas sob investigação da Polícia Federal.
A Folha de São Paulo também mostrou que ele foi “funcionário-fantasma” da Câmara dos Deputados por quase seis anos, quando acumulava o cargo com outra função na Câmara Municipal do Rio.
Ele ocupava o cargo desde 2007, ainda no segundo governo Lula.
Quando as suspeitas foram tornadas públicas, Lupi chegou a dizer que duvidava que seria demitido. “Duvido que a Dilma me tire. Para me tirar só abatido a bala”, afirmou à época. Dois dias depois, em comissão na Câmara, pediu desculpas à presidente e emendou um “eu te amo”, a que Dilma respondeu ironicamente: “não sou propriamente romântica”.
Lupi também não passou ileso pela operação Lava Jato. Ele e Marcelo Panella, tesoureiro do PDT e chefe de gabinete do ministro até esta sexta, foram acusados por colaboradores da Odebrecht de receber recursos ilegalmente.
Conforme os depoimentos à Lava Jato, os dois negociaram o repasse de R$ 4 milhões ao partido em 2014, por meio de caixa dois, com o objetivo de vender o apoio da legenda à chapa de Dilma Rousseff.
Lupi foi acusado de receber outros R$ 400 mil no mesmo ano, também não declarados à Justiça, para sua campanha derrotada ao Senado. O objetivo da Odebrecht seria comprar a adesão dele à causa da privatização do setor de saneamento. O PDT sempre disse que os colaboradores da empreiteira não tinham provas.
Mesmo licenciado da presidência do PDT, Lupi seguia na executiva e comandava as conversas para a formação de uma federação com outras legendas, como PSB e Solidariedade, mas via dificuldades no modelo. Com o PSB, a negociação ainda enfrenta a disputa dos irmãos Ciro Gomes (PDT) e Cid Gomes (PSB).
Lupi criticou reforma da previdência no Lula 3
Em uma de suas primeiras entrevistas alguns dias antes de tomar posse como ministro da Previdência do governo atual, fez críticas à reforma da Previdência implantada no governo de Jair Bolsonaro (PL) e defendeu a flexibilização da idade mínima para a aposentadoria de mulheres.
Depois, recém-empossado, disse que criaria uma comissão para discutir uma “anti-reforma” da Previdência e afirmou que a pasta não era deficitária. Acabou desautorizado por Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil, que negou qualquer intenção de uma nova reforma.
A nomeação à pasta da Previdência no Lula 3 não era o desejo inicial do comando do PDT, que almejava uma pasta de maior visibilidade. Coube então a Lupi a indicação de Alessandro Stefanutto para chefiar o INSS.
Servidor da Previdência há 24 anos, Stefanutto foi procurador do INSS, e deixou o comando da autarquia no fim de abril, depois de ter sido afastado do cargo pela Polícia Federal em meio à apuração dos descontos ilegais em benefícios. Segundo a auditoria, os valores eram repassados a associações, sem a autorização e o conhecimento de parte dos aposentados.
Stefanutto foi filiado ao PSB e desde fevereiro estava no PDT, que apostava em seu nome como um potencial puxador de votos para deputado federal nas eleições de 2026.
A ideia era que sua principal bandeira de campanha fosse o enfrentamento à fila de pedidos do INSS. A espera por uma resposta do instituto aos requerimentos de aposentadoria, pensão e auxílios era também vista por Lupi como uma de suas missões à frente do ministério que controla o INSS.
A fila não caiu. Como ministro, Lupi também travou uma disputa com os bancos para manter abaixo de 2% os juros mensais dos empréstimos consignados para beneficiários do INSS. As informações são do portal Folha de São Paulo.