Sexta-feira, 03 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 25 de outubro de 2015
Há uma estranha anestesia na sensibilidade do mundo político. Se, em 2005, o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), foi enxotado ao se confirmar que recebia um “mensalinho” de 10 mil reais de um concessionário de restaurante, a semana começou sob o impacto do noticiário das milionárias contas na Suíça do atual presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sem que houvesse a mesma indignação de há dez anos.
Pode-se gastar muita tinta e papel em debates sobre o porquê da letargia. O importante, porém, é estabelecer-se que Severino não poderia continuar. Nem Cunha deve se manter na cadeira que já foi de Severino – mas principalmente de Ulysses Guimarães –, após revelada a existência das contas, abastecidas por milhões desviados do esquema de corrupção instalado na Petrobras – salvo sólido desmentido do deputado.
Depois de todas as provas divulgadas, o mínimo que se espera é seu afastamento da presidência da Casa. Isso teria de ocorrer com o País na normalidade. E em um momento como o atual, em que uma crise política turbina a debacle econômica, o afastamento precisa ser ainda mais rápido.
O Congresso tem de estar a salvo de outras injunções para aprovar o que é necessário, a fim de que o País saia da turbulência, com o mínimo de danos. Mas, não. Oposição e a base fragmentada da situação se posicionam na questão Cunha de forma oportunista, para faturar dividendos.
É preciso cobrar do Legislativo que não vire as costas à sociedade. Ela está informada sobre as transações bilionárias e subterrâneas de desvios de dinheiro do Erário por meio do assalto a empresas públicas, de que se beneficiaram partidos, parlamentares, militantes, executivos, empresários. (AG)