Terça-feira, 30 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de setembro de 2025
Estudos mostram que o mosquito se multiplica com muito mais rapidez em temperaturas entre 20 °C e 29 °C
Foto: ReproduçãoUm inseto de poucos milímetros é capaz de lotar hospitais e mudar a rotina de milhões de pessoas. E o Aedes aegypti, transmissor da dengue, da zika e da chikungunya, ganhou um aliado poderoso nos últimos anos: o clima cada vez mais quente.
Estudos mostram que o mosquito se multiplica com muito mais rapidez em temperaturas entre 20 °C e 29 °C, justamente a faixa que se tornou mais frequente no Brasil e no mundo com o aquecimento global.
Basta um aumento de 2 °C para que os casos de dengue cresçam em média 18%. Com o calor, o ciclo de vida do Aedes se acelera.
Ele nasce mais rápido, pica mais rápido e transmite o vírus em menos tempo. Na prática, a população do inseto cresce em ritmo turbinado, ampliando o risco de surtos. E esse cenário se agrava quando altas temperaturas se combinam a chuvas intensas e fenômenos como o El Niño.
Em 2024, o Brasil registrou 2,3 milhões de casos prováveis em apenas dois meses, um recorde histórico. A mudança climática também vem expandindo o território da dengue.
Regiões antes consideradas de baixo risco, como áreas de montanha no Sul do Brasil, passaram a registrar transmissão. Países da Europa, como França e Itália, também já confirmaram casos autóctones da doença.
As consequências são imediatas: mais internações, hospitais lotados, filas em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e pressão crescente sobre os sistemas de atendimento.
Apesar do quadro preocupante, especialistas apontam caminhos.
“As soluções vão desde as mais simples — eliminar água parada, usar repelente — até as mais avançadas, como monitorar o clima para prever surtos e liberar mosquitos com a bactéria Wolbachia, que reduz a transmissão do vírus”, explica Maria Anice Mureb, professora da USP que pesquisa o Aedes aegypti há mais de 45 anos.
Dessa forma, com o clima em transformação, a dengue se tornou um exemplo emblemático de como a crise ambiental impacta diretamente a saúde pública.
O desafio, agora, é combinar prevenção comunitária, inovação científica e políticas públicas para evitar que o mosquito continue avançando junto com o aquecimento do planeta.
Sinais e sintomas
A dengue é uma doença febril aguda, sistêmica, dinâmica, debilitante e autolimitada. A maioria dos doentes se recupera, porém, parte deles podem progredir para formas graves, inclusive virem a óbito. A quase totalidade dos óbitos por dengue é evitável e depende, na maioria das vezes, da qualidade da assistência prestada e organização da rede de serviços de saúde.
Todo indivíduo que apresentar febre (39°C a 40°C) de início repentino e apresentar pelo menos duas das seguintes manifestações – dor de cabeça, prostração, dores musculares e/ou articulares e dor atrás dos olhos – deve procurar imediatamente um serviço de saúde, a fim de obter tratamento oportuno.
No entanto, após o período febril deve-se ficar atento. Com o declínio da febre (entre 3° e o 7° dia do início da doença), sinais de alarme podem estar presentes e marcar o início da piora no indivíduo. Esses sinais indicam o extravasamento de plasma dos vasos sanguíneos e/ou hemorragias, sendo assim caracterizados:
– Febre alta;
– Dor de cabeça e/ou atrás dos olhos;
– Enjoo;
– Moleza;
– Dor nas articulações;
– Manchas vermelhas no corpo;
– Dor na barriga intensa;
– Vômitos frequentes;
– Tontura ou sensação de desmaio;
– Dificuldade de respirar;
– Sangramento no nariz, gengivas e fezes;
– Cansaço e/ou irritabilidade.
Transmissão
O vírus da dengue (DENV) pode ser transmitido ao homem principalmente por via vetorial, pela picada de fêmeas de Aedes aegypti infectadas. Transmissão por via vertical (de mãe para filho durante a gestação) e por transfusão de sangue são raros.
Não existe necessidade da realização de exames específicos para o tratamento da doença, já que é baseado nas manifestações clínicas apresentadas. No entanto, para apoiar o diagnóstico clínico existem disponíveis técnicas laboratoriais para identificação do vírus (até o 5° dia de início da doença) e pesquisa de anticorpos (a partir do 6° dia de início da doença).
Em 21 de dezembro de 2023, a vacina contra dengue foi incorporada no Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público de saúde.