Quinta-feira, 14 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 2 de fevereiro de 2020
Há um século, um vírus se alastrou pelo planeta, infectando cerca de 500 milhões de pessoas, o equivalente a um terço da população mundial. Estima-se que, entre 1918 e 1920, 50 milhões tenham morrido por causa da gripe espanhola, mais do que os 17 milhões de vítimas, entre civis e militares, da 1ª Guerra Mundial.
Esse episódio histórico devastador volta à mente ainda hoje quando surgem novos surtos, como o atual causado por um coronavírus — e houve muitos desde o início do século passado. Entre os mais recentes, estão os de ebola, que infectou 30 mil pessoas e matou 11 mil na África, entre 2014 e 2016; de gripe suína, que atingiu mais de 200 países desde 2009 e fez 200 mil vítimas; e também os de gripe aviária registradas desde o fim dos anos 1990.
Com a eclosão de uma nova epidemia causada por um micro-organismo até então desconhecido, como o 2019-nCov, como é oficialmente chamado o coronavírus identificado em dezembro na China, muitas pessoas olham para o passado na tentativa de encontrar respostas sobre o que o futuro nos reserva.
No entanto, infectologistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem ser difícil comparar a atual epidemia com outras anteriores — e até mesmo com as duas causadas por outros coronavírus na última década. “A gripe espanhola ocorreu em uma época em que não tínhamos as medidas de proteção e antibióticos para tratar complicações pulmonares que temos hoje. É complicado comparar até mesmo com a gripe suína, que foi a grande pandemia [epidemia em escala global] dos últimos 30 anos, porque o vírus é outro”, diz Rivaldo Venâncio, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
‘Coronavírus nunca causou pandemia’
Gripes são doenças respiratórias causadas por vírus do tipo influenza e geram sintomas mais fortes do que os de um resfriado, que também é uma doença respiratória, mas provocada por outros vírus, como rinovírus e também coronavírus.
“O vírus influenza causou várias pandemias históricas, mas ele tem como característica uma capacidade muito grande de sofrer mutações e de gerar epidemias, algo que não acontece com o coronavírus”, diz João Renato Rebello Pinho, médico patologista e chefe do laboratório de técnicas especiais do Hospital Albert Einstein.
Os coronavírus são uma família de vírus conhecida desde os anos 1960 e que circula entre animais. Destes vírus, sabe-se que sete são capazes de saltar a barreira entre espécies e contaminar pessoas. Eles podem causar desde um resfriado comum até problemas respiratórios graves que podem levar à morte.
Pinho diz que o novo coronavírus vem sendo descrito como resultado de uma recombinação genética entre um coronavírus presente em morcegos e outro presente em répteis que gerou uma nova variante capaz de infectar humanos. “Mas isso é bem raro de acontecer”, afirma.
E um coronavírus nunca causou uma pandemia, diz Kleber Luz, professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
“Quem provoca isso são os vírus influenza, porque geram muitos sintomas, como secreções, e são muito infectantes, têm uma grande capacidade de disseminação. Se ele se espalha por uma população que não estiver vacinada, 90% das pessoas vão pegar”, diz Luz.