Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Tito Guarniere | 10 de setembro de 2022
Há um punhado de razões para não votar em Bolsonaro.
Talvez a primeira delas seja a incivilidade. Os maus modos de Bolsonaro não dizem bem de sua formação militar. Consta que existe uma “honra militar” – devem se conduzir dentro de normas elevadas de convivência, respeito a interlocutores e circunstantes. Se for isso, Bolsonaro gazeou as aulas ou esqueceu as lições da caserna.
Mas não se jogue a culpa da rudeza de trato e da cintura dura de Bolsonaro nos seus colegas de farda. Esse lado irascível, essa disposição de atacar e agredir quem ele não gosta ou lhe desagrada, é da sua personalidade. Já seria sombrio e preocupante no cidadão comum. Mas quando se trata do mais alto governante do país, mais do que um defeito grave, é um péssimo exemplo. Se o presidente pode ofender, xingar, esbravejar, dizer palavrões, então o concidadão, o homem comum também pode. Nada prolifera mais e mais rápido do que o mau exemplo.
Gostaria de um presidente afável, conciliador, inclinado ao bom trato de todos, inclusive os adversários políticos. Nunca ouvi dizer que Sarney, Temer, Dilma, Fernando Henrique tenham resvalado para o chulo, o escatológico, antes, durante e depois dos respectivos mandatos. Eles se dão ao respeito.
O homem evolui no plano ético e civilizatório sobretudo na forma como ele se relaciona com os seus semelhantes. Demoramos séculos para nos tratarmos com educação e deferência. Séculos para tomar a civilidade como sinal virtuoso e desejável. Bolsonaro promove a regressão, faz o relógio civilizatório voltar atrás, porque a sua propensão à grosseria é indomável.
É por causa da incivilidade que ele comete tantas transgressões e afrontas ao decoro e liturgia do cargo, que ele é tão truculento contra as mulheres ou quando se trata de debater com os seus adversários. É por causa da incivilidade que , tantas vezes, sem medir as consequências, sem considerar os altos interesses do país, ele lança insultos a colegas estadistas e parceiros internacionais.
Também decorre de uma incivilidade doentia a vocação para a dissimulação e a mentira. Os governantes totalitários têm por costume atribuir aos adversários intenções que eles próprios alimentam. O bolsonarismo espalha que se Lula vencer a eleição implantará o comunismo no Brasil. Mas quem toma todas as medidas para um golpe é ele, Bolsonaro, e a turma dele.
Basta ler as redes sociais bolsonaristas desta semana: há um esforço deliberado para transformar as comemorações dos 200 anos de Independência em atos de insulto ao Judiciário e até ao Congresso Nacional, em que Bolsonaro desfruta do apoio maciço da maioria formada pelo Centrão.
“ Meter a pé na porta do STF e do Congresso”, desafiam certas alas do bolsonarismo.
É uma ultraje, por igual, a apropriação abusiva dos símbolos nacionais, como a bandeira e as cores verde e amarela, que deveriam ser de todos os brasileiros, mas que foram adotados como se fossem domínio exclusivo de Bolsonaro e dos seus seguidores. Uma afronta que já seria bom motivo para afastar os atuais detentores do poder – pela urna, pelo voto popular.
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