Quarta-feira, 03 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de dezembro de 2025
A capital também registra a maior taxa de detecção de infecção pelo HIV entre gestantes
Foto: ReproduçãoO boletim epidemiológico do Ministério da Saúde mostrou que Porto Alegre ainda enfrenta desafios para reduzir os elevados índices de HIV e Aids na cidade.
A capital gaúcha apresenta a maior taxa de mortalidade por Aids do País (12,0 por 100 mil habitantes), aproximadamente três vezes acima da média nacional (3,4) em 2024. Também registra a maior taxa de detecção de infecção pelo HIV entre gestantes, com 14,9 casos por 1.000 nascidos vivos, 4,7 vezes superior ao índice nacional. Porto Alegre lidera esses dois rankings desde 2014.
Além disso, possui a segunda maior taxa de detecção de Aids em crianças menores de 5 anos, com 6,1 casos por 100 mil habitantes, superada apenas por Vitória (10,9). A cidade também é a terceira capital com maior taxa de detecção de Aids, com 52,6 casos por 100 mil habitantes, atrás de Belém (57,5) e Manaus (53,4), e ocupa a sexta posição na detecção de HIV, com 42,5 casos por 100 mil habitantes.
Esses números colocam Porto Alegre na 1ª posição no ranking dos 100 municípios com mais de 100 mil habitantes no indicador geral de vulnerabilidade epidemiológica, que considera a detecção de Aids na população geral e em crianças menores de 5 anos, a mortalidade e a primeira contagem de células de defesa do organismo (CD4) nos últimos cinco anos.
O mesmo ranking evidencia que o desafio se estende à região metropolitana: Canoas figura em 5º lugar, Alvorada em 7º e Sapucaia do Sul em 13º.
Os dados confirmam que Porto Alegre enfrenta uma epidemia de HIV. Um estudo realizado em julho pelo Hospital Moinhos de Vento e pelo Ministério da Saúde com 8.000 pessoas apontou que 1,64 em cada 100 pessoas vivem com HIV na região metropolitana, índice acima do limite de 1 para 100 habitantes estabelecido pela OMS para considerar a epidemia controlada.
Segundo Daila Renck, coordenadora da Atenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis, HIV/Aids, Tuberculose e Hepatites Virais (Caist) da Secretaria Municipal de Saúde, o fato de a epidemia ser generalizada significa que toda a população está exposta, independentemente de pertencer a algum grupo de risco.
Apesar do cenário ainda preocupante, Daila observa avanços a longo prazo. Porto Alegre implementou o teste rápido de HIV na atenção primária em 2011. Desde então, os índices, embora ainda elevados, estão melhores do que anos atrás, e a cidade não registra mais de mil novos casos por ano desde 2019.
A prescrição da PrEP foi incorporada à atenção primária em 2022, com adesão crescente. Segundo Daila, a meta é ampliar o número de pontos de retirada do medicamento —atualmente são nove—, além de disponibilizar um sistema de entrega domiciliar, em que o paciente realiza uma consulta virtual, envia os exames e recebe a medicação em casa.
“Muitas pessoas não conseguem sair do seu território, do seu bairro. Eles precisam fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento nesses locais. Isso vai garantir que se tornem indetectáveis”, disse. Daila destaca que, com a implementação da prescrição e da conscientização, houve aumento na procura pela PrEP entre mulheres cis. “A PrEP não tem a ver com promiscuidade, tem a ver com autocuidado.”
Ela enfatiza que a prevenção deve ser pensada de forma individualizada dentro da estratégia da prevenção combinada, que inclui profilaxias pré e pós-exposição (PEP), preservativos, testagem, redução de danos, identificação de situações de risco e acesso à educação sexual.
“Quando falamos de prevenção, precisamos falar antes de sexualidade. E falar de sexualidade na sociedade é tabu”, afirma Daila. “No momento em que não conseguimos abordar sexualidade, gênero, desejo e sexo, não é possível realizar uma prevenção adequada.” (Com informações do jornal Folha de S.Paulo)